Em um passado, não
muito distante, os sintomas apresentados pelos bebês eram vistos e tratados
apenas como manifestações fisiológicas.
Diante das
dificuldades encontradas pela não remissão dos sintomas com o tratamento convencional,
tornou-se fundamental uma compreensão aprofundada do bebê, considerando a sua
dinâmica emocional e o universo de relações que ele estabelece com a
família/cuidadores.
Essa visão integral
que oferece a possibilidade de atender a demanda emocional que alguns bebês
apresentam, inclusive logo após o nascimento, é a pedra fundamental desse
trabalho terapêutico entre pais e bebês.
Muitas das
explicações às manifestações físicas dos bebês têm relação com os vínculos
afetivos entre ele e seus pais/cuidadores e estes podem implicar, inclusive, em
prejuízo do seu desenvolvimento integral.
Desde a gestação os
bebês têm uma vida psíquica e o relacionamento com o mundo externo ao ventre
materno se constrói desde então. Após o nascimento há um reconhecimento entre
pais e bebê, e então a relação entre eles toma outra dimensão.
Winnicott refere:
“não existe essa coisa chamada bebê” – para dar a dimensão do mundo de relações
ao qual o bebê precisa se inserir para existir, para ser.
A relação entre os
pais e o bebê, em especial com a mãe, é movimentada pela circulação dos afetos
entre eles. Os elementos que compõem essa dinâmica são atravessados pelas
histórias de vida dos pais, pela relação entre esse casal parental e pela
dinâmica familiar como um todo.
Não raramente
ocorrem dificuldades, especialmente no pós-parto imediato onde há uma intensa
vivência emocional tanto por parte do bebê como dos pais, e de adaptação do
bebê às novas condições extero-gestacionais, e dos pais em seus novos papéis
familiares.
A
permeabilidade a esse trabalho terapêutico é bastante expressiva na medida em
que, quanto mais precocemente forem lidadas as demandas emocionais, maior a
eficácia do cuidado, é o chamado “período sensível”. Há nessa relação pais-bebê
um campo de riquezas terapêuticas que precisam ser reconhecidas e valorizadas
como ferramentas de prevenção à saúde integral, física e emocional, do bebê e
da família.
Os bebês expressam
seus sofrimentos psíquicos no corpo para se fazerem ouvir.
Como podemos
identificar os sinais de sofrimento psíquico, fragilidades e dificuldades nos
bebês, os chamados sinais de apelo? Os bebês podem apresentar:
Ø Distúrbios somáticos: eczema, asma,
infecções de repetição, distúrbios digestivos e outros...
Ø Doenças recorrentes
Ø Dificuldades para dormir - dorme pouco ou
muito.
Ø Dificuldades de alimentação – é um momento
tenso, de sofrimento ou há uma recusa ao alimento/amamentação.
Ø Variações de temperatura sem diagnóstico
clínico.
Ø Falta de interesse no cuidador – pais e outros.
Ø Pouca ou nenhuma interação diante da
proposta de brincar.
Ø Não há fixação do olhar
Ø Apatia, sintomas depressivos.
Cabe aqui esclarecer
que esta listagem aponta possibilidades de sintomas cuja causa pode ser relacional,
mas não podemos descartar as causas físicas de tais disfunções e distúrbios.
O objetivo deste
artigo é levar ao conhecimento dos pais e cuidadores que pode haver outra causa
para estes distúrbios, especialmente quando eles são recorrentes ou não
apresentam coerência diagnóstica física.
A psicoterapia
pais-bebê é uma modalidade de atendimento que promove atenção à saúde emocional
desde a gestação até o terceiro ano de vida do bebê, já que esta corresponde à
fase fundamental para a constituição do ser humano. Então, podemos considerar
de maneira relevante tais sintomas, até o terceiro ano de vida, sendo que o
primeiro ano é considerado o mais importante.
São processos
psicossomáticos cuja função na corporeidade do bebê é denunciar e dar voz ao
seu universo de emoções.
Um sintoma precisa
ser acolhido como um caminho que se coloca diante da família para levá-la a
lugares de realização e plenitude, precisa apenas olhá-lo com coragem para
percorrê-lo.
Abraço afetuoso...
Rosângele Monteiro
Psicóloga Perinatal
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