(Pikler Institute)
Foster Home
Treinamento e Centro de Pesquisa
Com relação ao bebê:
Conceitos de cuidados paternais e maternais de Emmi
Pikler
Quando a pediatra Emmi Pikler inaugurou um instituto
para órfãos há cinqüenta e dois anos em sua cidade natal, Budapeste, ela
enfrentou um dilema endêmico nesse tipo de instituição: como pode um grupo de
crianças receber atenção individualizada com um número limitado de cuidadores?
A solução de Pikler foi no sentido de as crianças
brincarem sem o auxílio de adultos. Isso a levou a criar um conceito de
cuidados maternais e paternais ensinado até os dias de hoje ao redor do mundo,
catorze anos após a sua morte. A partir da infância, bebês em seu Instituto
Nacional Metodológico para Cuidado de Crianças e Educação (National Methodological Institute for Infat Care and Education),
também chamado de Loczy, são ensinados a participar ativamente em sua própria
vestimenta, alimentação e higiene. Por outro lado, muitas habilidades ensinadas
em outros lugares são especificamente não ensinada aqui, e, mais importante,
bebês jamais são colocados numa posição na qual eles não possam se dedicar a si
mesmos. Eles não são escorados em qualquer lugar para que possam sentar,
tampouco têm suas mãos sendo seguradas por alguém para que possam caminhar, por
exemplo.
“Por uma questão de princípio, nos abstemos de ensinar
habilidades e atividades em que, sob condições apropriadas, envolverão a
própria iniciativa da criança e a sua atividade independente”, escreveu Pikler,
em seu livro “O que o seu bebê já consegue fazer?” (What can your baby do already?),
publicado na Hungria em 1940. O livro
também foi traduzido para o alemão e parcialmente traduzido para o Inglês no
boletim de inverno das Fundações de Atenção Sensorial, em 1994.
Ela complementa: “Enquanto aprende a contorcer o
abdômen, rolar, rastejar, sentar, ficar de pé e andar, (o bebê) não apenas está
aprendendo aqueles movimentos como também o seu modo de aprendizado. Ele
aprende a fazer algo por si próprio, aprende a ser interessado, a tentar, a
experimentar. Ele aprende a superar dificuldades. Ele passa a conhecer a
alegria e a satisfação derivadas desse sucesso, o resultado de sua paciência e
persistênci.”.
Em suma, Pikler tinha uma ideia revolucionária de que
bebês – ainda que recém nascidos – são indivíduos competentes com seu
cronograma próprio, e devem ser tratados com respeito.
Tal respeito pode ser tratado de forma ampla. Um
estudo de 1972 da Organização Mundial de Saúde (World Health Organization) revelou que bebês criados sem os pais no
Instituto Pikler atingiram pontuações tão altas quanto aqueles educados em casa
em escalas sociais, profissionais e de ajuste emocional.
Se o método Pikler deu tamanho impulso a bebês órfãos,
é razoável que represente um benefício enorme àqueles criados em casa por pais
amorosos. Um dos assistidos de Pikler, a húngara Magda Gerber, transformou o seu
trabalho e o tornou acessível para pais. Sua instituição Recursos para
Educadores de Crianças (Resources for
Infant Educators), a RIE, oferece a pais e professores aulas baseadas no
método Pikler.
O fundamento para transformar em ação quaisquer das
idéias de Pikler e Gerber é uma relação de amor calorosa entre pais (ou
qualquer outro cuidador) e criança. Desde que os bebês experienciem o amor
daquele(s) que cuida(m) no período que passam cuidando deles, Gerber sugere que
os pais utilizem seu tempo para atividades como trocas de fralda, alimentação,
banhos e vestimenta, sem pressa e com um aproveitamento prazeroso do tempo, com
o bebê sendo um participante ativo. Com o seu “currículo” pronto, os bebês, em
condições de segurança e liberdade, utilizarão seu tempo adquirindo
conhecimento exatamente sobre aquilo que precisam para que estejam aprendendo
em qualquer circunstância dada a eles.
“Quando você aborda seu bebê com uma atitude de
respeito, você diz a ele qual a sua intenção e dá a ele a chance de responder”,
diz Gerber. “Você compreende que ele é competente e o envolve em seu cuidado,
deixando-o, na medida do possível, resolver seus próprios problemas. Você dá a
ele plena liberdade física e não força qualquer desenvolvimento”.
E diz ainda, “Pais acreditam tratar seus bebês com
respeito. Mas se você assistir os bem intencionados adultos amorosos, verá que
com freqüência eles interrompem as brincadeiras de seus bebês sem sequer pensar
que o estão fazendo, tratando-os de uma forma que, em outras circunstâncias, dificilmente
seriam qualificadas como respeitosas.”
Reconhecer e respeitar a competência de nossos bebês
também liberta os pais. Gerber acredita firmemente que pais não precisam
entreter seus bebês porque, dando a eles um ambiente de estimulação e liberdade
para explorar, eles são extremamente capazes de entreter a si mesmos.
Considere o caso de Sean, um participante de dez meses
de vida do RIE, e sua mãe, Janey:
Enquanto
Janey e as outras mães e pais sentavam-se de pernas cruzadas apoiados na parede
de uma sala ampla, Sean e seis outros bebês com a mesma média de idade e fase
de desenvolvimento brincavam no chão carpetado. Sean e seus amigos exploram:
alguns rolando com uma garrafa PET de refrigerante vazia ou com pequenas bolas
em suas mãos; alguns deitando com a barriga para cima e brincando com seus
dedos dos pés; alguns sentando e colocando mordedores na boca. Alguns já estão
se rastejando ao redor da sala. Uma garotinha está se divertindo bastante
subindo e descendo a estrutura de três degraus, feita para ser escalada. Os
pais olham como se estivessem apenas ali sentados, mas na verdade estão
praticando a arte da observação.
Repentinamente,
Sean começa a chorar. Ele havia se direcionado a um lugar bastante apertado sob
a estrutura de três degraus e não conseguia sair. Janey esteve no RIE tempo
suficiente para controlar seu impulso de resgatá-lo. Ao invés disso, ela se
aproxima de Sean e se agacha, numa posição de quatro apoios, fazendo com que
seu rosto fique próximo ao seu bebê. “Eu posso ver que você está preso e está
tentando descobrir como sair”, ela diz. Ela fica próxima a ele e, após mais
algumas tentativas acompanhadas de choro, Sean consegue fazer uma manobra e se
livrar. Ele então se senta sobre sua perna esquerda, e olha alegremente para
sua mãe.
O que tudo isto significa para você e para seu bebê?
Quando quiser trocar uma fralda, vesti-lo ou alimentá-lo, primeiro dê uma
olhada para verificar o que o seu bebê está fazendo. Se ele estiver imerso numa
atividade e você tiver tempo, tente não interrompê-lo. Procure o momento certo
para que você interfira. Diga algo como “Eu quero mudar sua fralda agora”, e estenda
seus braços em sua direção. Espere uma resposta. Seu bebê deverá olhar para
você ou ir em direção aos seus braços. Se sua requisição for ignorada e você
tiver tempo, você pode dizer algo semelhante a “Vejo que você ainda quer
brincar” e espere mais alguns minutos antes de tentar novamente. Se você não
tiver tempo, ainda pode reconhecer que seu bebê preferia continuar brincando,
mas que precisa trocar suas fraldas agora, e então comece a fazê-lo. Ainda que
seu ele seja muito pequeno para compreender tais palavras, o tom de sua voz
será associado aos seus gestos.
Assim que estiver na mesinha de troca, não distraia
seu bebê com um chocalho, por exemplo. Ao invés disso, tente olhar nos olhos
dele mantendo contato e explique, passo a passo, o que você está fazendo, e
peça ajuda: “Estou colocando você na mesinha de troca de fraldas. Agora, eu vou
tirar a sua calça – você consegue tirar seu pé? Obrigada.” Ou: “Eu vou tirar a
sua fralda suja agora. Por favor, levante seus quadris.”
Após alguns anos de esforço paciente, a proposta do
RIE está agora sendo reconhecida nos Estados Unidos. A Associação Nacional para
a Educação de Jovens Crianças (National Association
for the Education of Young Children), NAEYC, e a Zero a Três (Zero to Three), Centro Nacional para
Programas de Crianças em Tratamento Clínico (National Center for Clinical Infant Programs), incorporaram
recentemente as idéias básicas do RIE às suas recomendações de cuidados
infantis.
“A ênfase de Gerber na necessidade de entender e
conhecer os bebês como pessoas tem tido uma influência muito grande em nossos
artigos sobre cuidados infantis e a forma como os adultos de fato cuidam das
crianças nos Estados Unidos.”, afirma Sue Bredekamp, diretora do Desenvolvimento
Profissional da NAEYC. “Nós concordamos com ela na questão da importância de se
prestar atenção nas pistas e mensagens de um bebê, ao invés de impormos a ele
os nossos cronogramas. Por exemplo, Gerber acredita que, quando um bebê chora,
no lugar de um adulto decidir o que é errado e responder imediatamente, ele
deveria aguardar um momento, para ver como o bebê reagiria. Ele se sente
confortável? Ele consegue encontrar uma solução? Essas são diretrizes
excelentes para os pais.”
Após muita discussão, a NAEYC muito provavelmente
incluirá uma recomendação surpreendente de Gerber em suas normas de
procedimento: que os bebês não deveriam olhar para o espelho até a fase em que
eles estão começando a andar. “Bebês são fascinados por feições.” afirma
Bredekamp. “Eles vêem sua imagem no espelho e, ao tentar alcançá-la para tocar
a face, acabam tocando algo que é na verdade duro e frio. Gerber crê que isso
seja confuso.”
Essa mudança de diretrizes nacionais, que agora
refletem as idéias do RIE, se devem em parte ao fato de que “as pesquisas estão
indo ao encontro do que diz Gerber”, de acordo com Peter Mangione, co-criador
do programa de cuidadores de crianças de até três anos, um projeto colaborativo
do Laboratório WestEd/Far West e do Departamento de Educação e Divisão de
Desenvolvimento Infantil da Califórnia.
“Durante anos, as pessoas da área estavam forçando a
interação face-a-face com crianças”, diz Mangione. “Gerber era em favor de
desacelerar esse processo e de dar ao bebê um espaço maior. Com o passar do
tempo, os pesquisadores começaram a dar destaque a ela. Eles perceberam que o
importante era dar à criança o controle da interação, em vez de muita
estimulação. Pesquisadores começaram a perceber as atividades auto-regulatórias
dos bebês e a dar a elas mais peso.”
A já tão amplamente aceita noção de que os pais devem
estimular e ensinar seus bebês, uma prática que disputa com o pensamento de
Gerber, também foi questionada em pesquisas recentes. “Vinte anos atrás, se
você fosse a uma sessão de cognição infantil, você veria muita ênfase na
importância dos adultos estimularem crianças”, afirma Mangione. “Agora, a
ênfase é no que as crianças fazem e na parceria participativa entre crianças e
adultos. Isto é algo que Gerber salientou durante anos.”
Fonte: xa.yimg.com/kq/groups/16997903/.../EMMI+PIKLER.doc
Olá, Rosângele, quem fala é Pollyana Teixeira, da Rádio Alvorada de Belo Horizonte. Lhe enviei um email para rosangele.monteiro@itelefonica.com.br. Ainda está ativo? Gostaria de conversar sobre a possibilidade de uma entrevista para a rádio.
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