Antes de começar a discorrer sobre o tema da importância do pai na educação de seu filhos, acho importante relembrar o conceito de “função paterna” e “função materna”, que não necessariamente tem haver com o que cabe “ao pai” ou “a mãe” fazerem no processo de educação de seus filhos. Atualmente, no mundo pós.moderno, caracterizado pela formação de novas constelações familiares, seria quase impossível dividir esta tarefas de acordo com os papeis sexuais. O que se mantem, de o fato, é a necessidade que a criança tem de que alguém que exerça esses dois papeis no decorrer do seu desenvolvimento, seja ele pai, mãe, avó, avo, baba, escola, ou qualquer outro sujeito que esteja vinculado a ele.
É claro que não pretendemos com isto desqualificar a enorme importância que um PAI e uma MÃE tem no processo de desenvolvimento psíquico de seus filhos, mas queremos apenas mostrar que, na falta de um modelo tradicional de figuras identificatórias, é possível encontrar novas possibilidades que exerçam estas funções essenciais no desenvolvimento da criança.
Abaixo procuraremos esclarecer um pouco o que chamamos de função paterna e função materna, relembrando sempre que, ao fazermos referencia ao pai e a mãe, não estamos necessariamente falando de dois indivíduos concretos e distintos.
O exercício da “função paterna” pressupõe muito mais do que a simples presença masculina na relação com o bebe. Esta função se encontra no espaço de “subjetivação”,do exercício de poder” entendida como a representação da lei. Se a “lei do pai” é aceita e internalizada progressivamente na criança, esta passa a se ver em um mundo com as outras pessoas e não só no mundo todo dela, o que favorece a saída da sua “onipotência infantil”, alem ressaltar para acriança o contato com os próprios limites, com a alteridade e com a morte.
Cabe ao pai a função de ser o “sustententador da lei”, o representante da lei para a criança: Ele não é a lei. Ele não faz a lei, mas é o representante da lei.
A Função Paterna favorece a formação do Superego na criança ao propiciar para a mesma a possibilidade de interiorização de uma série de regras morais que são fundamentais para o convívio social. Isto ocorre pois cabe ao pai ser aquele que proíbe o incesto, que intervem na díade mãe-filho, com o objetivo de impedir que a relação fusional que os mantém unidos desde o nascimento do bebe se prolongue por muito mais tempo, impedindo o desenvolvimento da individualidade da criança. É por isso que se diz que o pai é o “representante da lei”, ou seja é através dele, e da função que cabe à ele, que a criança internaliza o conceito de regra e moral. “Devido a presença do pai a criança é proibida de ter a mãe”.
O pai precisa agir como facilitador de separações, impulsionando o filho a seguir adiante. A partir deste momento, o pai passa a ser um elemento importante e fundamental deidentificação da criança, que antes era um papel restrito a mãe. Contudo, o pai só fará parte deste dinâmica se a mãe permitir e se for introduzido por ela. Neste momento, encontramos muitas vezes mães que, sem perceber, e por motivos mais diversos possíveis, sejam eles conscientes ou inconsciente, não conseguem fazer este corte do “cordão umbilical” com seus filhos e sem perceber, acabam impedindo o desenvolvimento psíquico saudável deles, chegando até mesmo, a comprometer o processo de aprendizagem acadêmica da criança. Entretanto, tal assunto será melhor abordado numa outra postagem.
Para que o pai realmente participe como facilitador da separação e como elemento de identificação, é importante que ele se predisponha a fazer parte desta relação. É preciso que ele adote afetiva e efetivamente seus filhos. Pais muito autoritários ou muito distantes podem favorecer o aparecimento de problemas de personalidade nas crianças e dificuldades de interação com companheiros.
O pai, ao representar o primeiro terceiro que entra na vida da criança, como um ser absolutamente diferente e com autonomia, permite ao filho que este se perceba como um ser integrado e autônomo.
A paternidade é um grande ancoradouro de valores éticos e morais e portanto, a palavra “pai” neste novo contexto, deveria deixar de representar uma atitude distante e passa a ser substituída pela palavra “participação”.
O pai suficientemente bom é aquele que deseja um desenvolvimento saudável para seu filho, dentro das potencialidades de cada um, ensinando.o a viver no mundo real, e no aconchego do seio familiar.
Finalmente, cabe ao pai ser um suporte emocional da mãe, proporcionando-lhe tranqüilidade necessária para que ela possa desempenhar seu papel. Para Winnicott, o pai precisa sustentar o estado materno de preocupação com o bebê, precisa proporcionar a mãe um suporte para que esta possa se ater a sua relação com o bebe.
Cabe a mãe, por seu lado, servir de “mãe-ambiente-continente” para o bebê Ela deve se identificar com o bebê e o ajudar na sua “integração”, ou seja, a perceber-se no tempo e no espaço, reconhecendo-se no seu corpo e na realidade, permitindo uma vivencia de onipotência, que é muito importante no início da vida para combater a ameaça de falta de controle sobre o que se apresenta.
Aos pais, portanto, cabe a função de transmitir regras e normas morais e sociais servindo como referencia.
Cabe a eles a árdua tarefa de impor limites. A falta de limite impede que a criança, quando adolescente, exercite sua capacidade de pensar, de ser criativo e espontâneo e impede ainda que o jovem organize sua mente pois o limite ajuda nesta organização.
De acordo com Bal (2001), deveria haver um equilíbrio entre direitos e deveres dos pais. No divorcio, assegura-se o direito de que cada um deles possa atender as múltiplas demandas dos filhos, ora agindo um de cada vez, ora conjuntamente, e que são capazes de exercer os papeis do outro e os seus próprios, conservando seus domínios privilegiados de intervenção, de se fazer um novo contrato social, fundado não nos papeis sexuais, mas nas necessidades do filho ter pai e mãe.
Texto elaborado por Gabriela Jens de Mello
Fonte: http://espacoparadialogar.blogspot.com.br/2011/12/importancia-do-pai-na-educacao-dos.html
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