quarta-feira, 4 de setembro de 2013

A Mulher, a maternidade e a profissão





Viver esses três papéis concomitantemente é de uma complexidade capaz de levar a mulher às manifestações mais sombrias da sua alma e, ao mesmo tempo, potencializar as realizações mais valorosas da sua existência.

Como integrar tantas demandas e de ordens tão diversas?
Há um espaço de conciliação entre a maternidade e a carreira?

Podemos pensar que, de alguma maneira, estes papéis são complementares, e não necessariamente um papel exige algo da mulher que se contrapõe a outro. O conflito está a serviço da ordem, e assim é para que possamos nos conectar com as nossas possibilidades ilimitadas, infinitas. Quando olhamos para o conflito temos condições de resolvê-lo, mas muitas vezes não é assim que agimos, preferimos nos vitimizar e manter nossa estreita convivência com o conflito, mantendo-o ali, ao nosso lado. Tornar o conflito um aliado é o desafio que cabe nesse espaço em que coabita carreira e maternidade.
Uma mulher que desenvolveu suas potencialidades, expressando-se no mundo através da sua profissão, naturalmente terá dificuldades em subtrair da sua vida todo esse movimento, de uma dedicação e esforço ímpares, para estar na maternidade.
Cada fase do ciclo vital exige um tipo de investimento emocional específico, o desenvolvimento da carreira requer um movimento para fora, “externalizante”, e a maternidade convida para o movimento mais interno que uma mulher pode viver. É nesse espaço que vive o conflito experimentado por mulheres profissionais que desejam viver a maternidade.

É possível uma mulher realizar esses dois desejos?

Sim, porém sem deixar de viver o feminino. Sem deixar o seu papel de mulher no último lugar de importância.
Isso quer dizer que a mulher precisa identificar, ou criar, a sua rede de apoio, tendo prioritariamente o pai como ocupante do primeiro lugar nesta rede.
É o pai quem pode ser o apoiador número um na legitimação de todos os papéis experimentados pela mulher: a mulher, a mãe e a profissional. Ele está diretamente envolvido em cada um deles, pois escolheu a esposa (relacionamento), a mãe (filhos), e a profissional com quem divide as responsabilidades materiais da família. Isto também está presente nas famílias onde os pais são separados, pois essa ordem não precisa ser alterada nesta constituição familiar.
Quando a mulher escolhe, porque sempre há uma escolha, conciliar carreira e maternidade, ela precisa estar consciente dos desafios que isto traz e construir, junto da sua rede de apoio, formas de lidar com esse projeto; sim é um projeto de vida!
O início da maternidade, materializada com a chegada de um bebê na família (seja o primeiro filho ou não), promove mudanças muito importantes, traduzidas em uma crise vital, onde os papéis fundamentais se alteram; a mulher agora é mãe, também, e o homem agora é pai, também.
Ser mulher, ser mãe e ser profissional compõem aspectos da identidade de toda mulher. Para a maioria das mulheres estes aspectos coexistirão em um determinado momento da vida. Integrá-los de maneira a reconhecê-los é o movimento que torna possível uma maternidade consciente: criar os filhos com autonomia interior.
Os filhos reconhecem as necessidades da mãe quando ela as coloca em sua vida familiar de maneira autônoma. Os filhos também se realizam com a realização da mãe. A mãe pode colocar suas escolhas, como a de manter a sua profissão em conciliação com a maternidade, e ficar livre da culpa, pois a culpa é filha da maternidade sem consciência.
A maternidade é uma vivência que, pontualmente, exige dedicação e renúncia. Em suas fases iniciais, a maternidade impulsiona a mulher a estar fusionada com o bebê, e isso é o natural, o desejado. Esse momento é o tempo da licença maternidade, em que a mãe fica imersa nos cuidados com o bebê, construindo a maternagem. O tempo da licença no Brasil ainda é insuficiente para dar conta das demandas de um bebê, e o retorno ao trabalho representa tempos difíceis de renúncia, agora, ao convívio intenso com o bebê. É neste momento que a rede de apoio deve contribuir com a mãe-mulher-profissional, e a empresa está inserida nesta rede, na medida em que deve lançar recursos de continência às novas necessidades de suas colaboradoras.
A conciliação entre carreira e maternidade convida a uma nova forma de vida, onde a mulher não precisa estar sozinha com seus desejos e necessidades. É tempo de partilhar, é tempo de pedir integração a todos os sistemas envolvidos na maternidade exercida pela mulher.

Ser mulher, mãe e profissional:

“Retomar a condição de mãe em novas bases de ação e entendimento”