domingo, 20 de janeiro de 2013

Cuidados com o bebê: respeito e envolvimento



(Pikler Institute)
Foster Home
Treinamento e Centro de Pesquisa


Com relação ao bebê:
Conceitos de cuidados paternais e maternais de Emmi Pikler

(Respecting baby: Emmi Pikler’s parenting Concepts - Por Ruth Mason[1], Estados Unidos e Hungria)

Quando a pediatra Emmi Pikler inaugurou um instituto para órfãos há cinqüenta e dois anos em sua cidade natal, Budapeste, ela enfrentou um dilema endêmico nesse tipo de instituição: como pode um grupo de crianças receber atenção individualizada com um número limitado de cuidadores?
A solução de Pikler foi no sentido de as crianças brincarem sem o auxílio de adultos. Isso a levou a criar um conceito de cuidados maternais e paternais ensinado até os dias de hoje ao redor do mundo, catorze anos após a sua morte. A partir da infância, bebês em seu Instituto Nacional Metodológico para Cuidado de Crianças e Educação (National Methodological Institute for Infat Care and Education), também chamado de Loczy, são ensinados a participar ativamente em sua própria vestimenta, alimentação e higiene. Por outro lado, muitas habilidades ensinadas em outros lugares são especificamente não ensinada aqui, e, mais importante, bebês jamais são colocados numa posição na qual eles não possam se dedicar a si mesmos. Eles não são escorados em qualquer lugar para que possam sentar, tampouco têm suas mãos sendo seguradas por alguém para que possam caminhar, por exemplo.
“Por uma questão de princípio, nos abstemos de ensinar habilidades e atividades em que, sob condições apropriadas, envolverão a própria iniciativa da criança e a sua atividade independente”, escreveu Pikler, em seu livro “O que o seu bebê já consegue fazer?” (What can your baby do already?), publicado na Hungria em 1940. O livro também foi traduzido para o alemão e parcialmente traduzido para o Inglês no boletim de inverno das Fundações de Atenção Sensorial, em 1994.
Ela complementa: “Enquanto aprende a contorcer o abdômen, rolar, rastejar, sentar, ficar de pé e andar, (o bebê) não apenas está aprendendo aqueles movimentos como também o seu modo de aprendizado. Ele aprende a fazer algo por si próprio, aprende a ser interessado, a tentar, a experimentar. Ele aprende a superar dificuldades. Ele passa a conhecer a alegria e a satisfação derivadas desse sucesso, o resultado de sua paciência e persistênci.”.
Em suma, Pikler tinha uma ideia revolucionária de que bebês – ainda que recém nascidos – são indivíduos competentes com seu cronograma próprio, e devem ser tratados com respeito.
Tal respeito pode ser tratado de forma ampla. Um estudo de 1972 da Organização Mundial de Saúde (World Health Organization) revelou que bebês criados sem os pais no Instituto Pikler atingiram pontuações tão altas quanto aqueles educados em casa em escalas sociais, profissionais e de ajuste emocional.
Se o método Pikler deu tamanho impulso a bebês órfãos, é razoável que represente um benefício enorme àqueles criados em casa por pais amorosos. Um dos assistidos de Pikler, a húngara Magda Gerber, transformou o seu trabalho e o tornou acessível para pais. Sua instituição Recursos para Educadores de Crianças (Resources for Infant Educators), a RIE, oferece a pais e professores aulas baseadas no método Pikler.
O fundamento para transformar em ação quaisquer das idéias de Pikler e Gerber é uma relação de amor calorosa entre pais (ou qualquer outro cuidador) e criança. Desde que os bebês experienciem o amor daquele(s) que cuida(m) no período que passam cuidando deles, Gerber sugere que os pais utilizem seu tempo para atividades como trocas de fralda, alimentação, banhos e vestimenta, sem pressa e com um aproveitamento prazeroso do tempo, com o bebê sendo um participante ativo. Com o seu “currículo” pronto, os bebês, em condições de segurança e liberdade, utilizarão seu tempo adquirindo conhecimento exatamente sobre aquilo que precisam para que estejam aprendendo em qualquer circunstância dada a eles.
“Quando você aborda seu bebê com uma atitude de respeito, você diz a ele qual a sua intenção e dá a ele a chance de responder”, diz Gerber. “Você compreende que ele é competente e o envolve em seu cuidado, deixando-o, na medida do possível, resolver seus próprios problemas. Você dá a ele plena liberdade física e não força qualquer desenvolvimento”.
E diz ainda, “Pais acreditam tratar seus bebês com respeito. Mas se você assistir os bem intencionados adultos amorosos, verá que com freqüência eles interrompem as brincadeiras de seus bebês sem sequer pensar que o estão fazendo, tratando-os de uma forma que, em outras circunstâncias, dificilmente seriam qualificadas como respeitosas.”
Reconhecer e respeitar a competência de nossos bebês também liberta os pais. Gerber acredita firmemente que pais não precisam entreter seus bebês porque, dando a eles um ambiente de estimulação e liberdade para explorar, eles são extremamente capazes de entreter a si mesmos.
Considere o caso de Sean, um participante de dez meses de vida do RIE, e sua mãe, Janey:

Enquanto Janey e as outras mães e pais sentavam-se de pernas cruzadas apoiados na parede de uma sala ampla, Sean e seis outros bebês com a mesma média de idade e fase de desenvolvimento brincavam no chão carpetado. Sean e seus amigos exploram: alguns rolando com uma garrafa PET de refrigerante vazia ou com pequenas bolas em suas mãos; alguns deitando com a barriga para cima e brincando com seus dedos dos pés; alguns sentando e colocando mordedores na boca. Alguns já estão se rastejando ao redor da sala. Uma garotinha está se divertindo bastante subindo e descendo a estrutura de três degraus, feita para ser escalada. Os pais olham como se estivessem apenas ali sentados, mas na verdade estão praticando a arte da observação.
Repentinamente, Sean começa a chorar. Ele havia se direcionado a um lugar bastante apertado sob a estrutura de três degraus e não conseguia sair. Janey esteve no RIE tempo suficiente para controlar seu impulso de resgatá-lo. Ao invés disso, ela se aproxima de Sean e se agacha, numa posição de quatro apoios, fazendo com que seu rosto fique próximo ao seu bebê. “Eu posso ver que você está preso e está tentando descobrir como sair”, ela diz. Ela fica próxima a ele e, após mais algumas tentativas acompanhadas de choro, Sean consegue fazer uma manobra e se livrar. Ele então se senta sobre sua perna esquerda, e olha alegremente para sua mãe.

O que tudo isto significa para você e para seu bebê? Quando quiser trocar uma fralda, vesti-lo ou alimentá-lo, primeiro dê uma olhada para verificar o que o seu bebê está fazendo. Se ele estiver imerso numa atividade e você tiver tempo, tente não interrompê-lo. Procure o momento certo para que você interfira. Diga algo como “Eu quero mudar sua fralda agora”, e estenda seus braços em sua direção. Espere uma resposta. Seu bebê deverá olhar para você ou ir em direção aos seus braços. Se sua requisição for ignorada e você tiver tempo, você pode dizer algo semelhante a “Vejo que você ainda quer brincar” e espere mais alguns minutos antes de tentar novamente. Se você não tiver tempo, ainda pode reconhecer que seu bebê preferia continuar brincando, mas que precisa trocar suas fraldas agora, e então comece a fazê-lo. Ainda que seu ele seja muito pequeno para compreender tais palavras, o tom de sua voz será associado aos seus gestos.
Assim que estiver na mesinha de troca, não distraia seu bebê com um chocalho, por exemplo. Ao invés disso, tente olhar nos olhos dele mantendo contato e explique, passo a passo, o que você está fazendo, e peça ajuda: “Estou colocando você na mesinha de troca de fraldas. Agora, eu vou tirar a sua calça – você consegue tirar seu pé? Obrigada.” Ou: “Eu vou tirar a sua fralda suja agora. Por favor, levante seus quadris.”
Após alguns anos de esforço paciente, a proposta do RIE está agora sendo reconhecida nos Estados Unidos. A Associação Nacional para a Educação de Jovens Crianças (National Association for the Education of Young Children), NAEYC, e a Zero a Três (Zero to Three), Centro Nacional para Programas de Crianças em Tratamento Clínico (National Center for Clinical Infant Programs), incorporaram recentemente as idéias básicas do RIE às suas recomendações de cuidados infantis.
“A ênfase de Gerber na necessidade de entender e conhecer os bebês como pessoas tem tido uma influência muito grande em nossos artigos sobre cuidados infantis e a forma como os adultos de fato cuidam das crianças nos Estados Unidos.”, afirma Sue Bredekamp, diretora do Desenvolvimento Profissional da NAEYC. “Nós concordamos com ela na questão da importância de se prestar atenção nas pistas e mensagens de um bebê, ao invés de impormos a ele os nossos cronogramas. Por exemplo, Gerber acredita que, quando um bebê chora, no lugar de um adulto decidir o que é errado e responder imediatamente, ele deveria aguardar um momento, para ver como o bebê reagiria. Ele se sente confortável? Ele consegue encontrar uma solução? Essas são diretrizes excelentes para os pais.”
Após muita discussão, a NAEYC muito provavelmente incluirá uma recomendação surpreendente de Gerber em suas normas de procedimento: que os bebês não deveriam olhar para o espelho até a fase em que eles estão começando a andar. “Bebês são fascinados por feições.” afirma Bredekamp. “Eles vêem sua imagem no espelho e, ao tentar alcançá-la para tocar a face, acabam tocando algo que é na verdade duro e frio. Gerber crê que isso seja confuso.”
Essa mudança de diretrizes nacionais, que agora refletem as idéias do RIE, se devem em parte ao fato de que “as pesquisas estão indo ao encontro do que diz Gerber”, de acordo com Peter Mangione, co-criador do programa de cuidadores de crianças de até três anos, um projeto colaborativo do Laboratório WestEd/Far West e do Departamento de Educação e Divisão de Desenvolvimento Infantil da Califórnia.
“Durante anos, as pessoas da área estavam forçando a interação face-a-face com crianças”, diz Mangione. “Gerber era em favor de desacelerar esse processo e de dar ao bebê um espaço maior. Com o passar do tempo, os pesquisadores começaram a dar destaque a ela. Eles perceberam que o importante era dar à criança o controle da interação, em vez de muita estimulação. Pesquisadores começaram a perceber as atividades auto-regulatórias dos bebês e a dar a elas mais peso.”
A já tão amplamente aceita noção de que os pais devem estimular e ensinar seus bebês, uma prática que disputa com o pensamento de Gerber, também foi questionada em pesquisas recentes. “Vinte anos atrás, se você fosse a uma sessão de cognição infantil, você veria muita ênfase na importância dos adultos estimularem crianças”, afirma Mangione. “Agora, a ênfase é no que as crianças fazem e na parceria participativa entre crianças e adultos. Isto é algo que Gerber salientou durante anos.”


[1] Ruth Mason é jornalista e escreve sobre cuidados paternais e maternais para várias publicações.

Fonte: xa.yimg.com/kq/groups/16997903/.../EMMI+PIKLER.doc