quarta-feira, 17 de julho de 2013

O trabalho terapêutico pais-bebê


Em um passado, não muito distante, os sintomas apresentados pelos bebês eram vistos e tratados apenas como manifestações fisiológicas.
Diante das dificuldades encontradas pela não remissão dos sintomas com o tratamento convencional, tornou-se fundamental uma compreensão aprofundada do bebê, considerando a sua dinâmica emocional e o universo de relações que ele estabelece com a família/cuidadores.
Essa visão integral que oferece a possibilidade de atender a demanda emocional que alguns bebês apresentam, inclusive logo após o nascimento, é a pedra fundamental desse trabalho terapêutico entre pais e bebês.
Muitas das explicações às manifestações físicas dos bebês têm relação com os vínculos afetivos entre ele e seus pais/cuidadores e estes podem implicar, inclusive, em prejuízo do seu desenvolvimento integral.
Desde a gestação os bebês têm uma vida psíquica e o relacionamento com o mundo externo ao ventre materno se constrói desde então. Após o nascimento há um reconhecimento entre pais e bebê, e então a relação entre eles toma outra dimensão.
Winnicott refere: “não existe essa coisa chamada bebê” – para dar a dimensão do mundo de relações ao qual o bebê precisa se inserir para existir, para ser.
A relação entre os pais e o bebê, em especial com a mãe, é movimentada pela circulação dos afetos entre eles. Os elementos que compõem essa dinâmica são atravessados pelas histórias de vida dos pais, pela relação entre esse casal parental e pela dinâmica familiar como um todo.
Não raramente ocorrem dificuldades, especialmente no pós-parto imediato onde há uma intensa vivência emocional tanto por parte do bebê como dos pais, e de adaptação do bebê às novas condições extero-gestacionais, e dos pais em seus novos papéis familiares.
                          A permeabilidade a esse trabalho terapêutico é bastante expressiva na medida em que, quanto mais precocemente forem lidadas as demandas emocionais, maior a eficácia do cuidado, é o chamado “período sensível”. Há nessa relação pais-bebê um campo de riquezas terapêuticas que precisam ser reconhecidas e valorizadas como ferramentas de prevenção à saúde integral, física e emocional, do bebê e da família.
Os bebês expressam seus sofrimentos psíquicos no corpo para se fazerem ouvir.
Como podemos identificar os sinais de sofrimento psíquico, fragilidades e dificuldades nos bebês, os chamados sinais de apelo? Os bebês podem apresentar:

     Ø  Distúrbios somáticos: eczema, asma, infecções de repetição, distúrbios digestivos e outros...
     Ø  Doenças recorrentes
     Ø  Dificuldades para dormir - dorme pouco ou muito.
     Ø  Dificuldades de alimentação – é um momento tenso, de sofrimento ou há uma recusa ao alimento/amamentação.
     Ø  Variações de temperatura sem diagnóstico clínico.
     Ø  Falta de interesse no cuidador – pais e outros.
     Ø  Pouca ou nenhuma interação diante da proposta de brincar.
     Ø  Não há fixação do olhar
     Ø  Apatia, sintomas depressivos.

                          Cabe aqui esclarecer que esta listagem aponta possibilidades de sintomas cuja causa pode ser relacional, mas não podemos descartar as causas físicas de tais disfunções e distúrbios.
                          O objetivo deste artigo é levar ao conhecimento dos pais e cuidadores que pode haver outra causa para estes distúrbios, especialmente quando eles são recorrentes ou não apresentam coerência diagnóstica física.
                          A psicoterapia pais-bebê é uma modalidade de atendimento que promove atenção à saúde emocional desde a gestação até o terceiro ano de vida do bebê, já que esta corresponde à fase fundamental para a constituição do ser humano. Então, podemos considerar de maneira relevante tais sintomas, até o terceiro ano de vida, sendo que o primeiro ano é considerado o mais importante.
                          São processos psicossomáticos cuja função na corporeidade do bebê é denunciar e dar voz ao seu universo de emoções.
                          Um sintoma precisa ser acolhido como um caminho que se coloca diante da família para levá-la a lugares de realização e plenitude, precisa apenas olhá-lo com coragem para percorrê-lo.
                          Abraço afetuoso...

Rosângele Monteiro
Psicóloga Perinatal