Quando as mães se encontram (mesmo sem se conhecerem) em filas de supermercado, restaurantes ou no trabalho, qual é o principal assunto que elas discutem? Cólicas.
É uma das queixas mais comuns nos primeiros três meses de vida do bebê. Estudos realizados em diferentes países e comunidades revelaram incidências variáveis entre 4 e 60%. Acredita-se que pelo menos 20% dos bebês apresentam cólicas e que 12 a 20% das famílias buscam auxílio médico para a resolução desse problema. Você sabe o que é cólica?
Na definição médica a cólica típica se inicia por volta da segunda ou terceira semana de vida, se manifesta como um ataque paroxístico de choro forte, agudo, estridente, progressivo. O lactente se estica, fica vermelho, vira a cabeça para os lados, as mãos ficam crispadas, as coxas fletidas sobre o abdome; com frequência ocorre eliminação de gases, que parece trazer alívio temporário. Com breves pausas, o choro pode se prolongar por horas. É comum o choro com “hora certa”, isto é, as cólicas ocorrem geralmente em um horário predeterminado, principalmente, no fim da tarde ou início da noite (19-23 horas).

Aceite e entenda o choro sem estresse

O choro é o principal sintoma e o que mais incomoda nesses episódios. Para a criança o choro é uma forma de comunicação não verbal, a única disponível. Bebês com queixa de cólica choram, em média, 240 a 280 minutos por dia, enquanto a maioria chora, em média, 100 minutos por dia.
O predomínio do choro nos períodos vespertino e noturno, bem como sua redução após os três meses de vida, acontece tanto em bebês com cólica como naqueles sem essa queixa. O que é importante perceber é que todos os bebês choram mesmo saudáveis, sem dor ou incômodo. Os pais devem entender e aceitar o fato evitando desgaste e estresse que vão interferir em sua capacidade de suportar o choro excessivo.
Os principais padrões de choro identificados nos casos de cólica são: período longo diário, recorrência desses episódios na maior parte dos dias, dificuldade em consolar a criança e não ter causa aparente.
Na prática, conforme a sintonia da mãe com o bebê vai aumentando e a intimidade entre os dois cresce, ela passa a conhecer cada vez melhor seu filho. E ainda que os estudos científicos mostrem que não há diferenças acústicas entre os choros, com o tempo a mãe aprende a decifrar em seu filho um choro de dor. Sem técnicas ou receitas mágicas, isso acontece naturalmente.

Por que as cólicas acontecem?

O diagnóstico da cólica é clínico, não necessita de exames complementares. A criança deve ser avaliada pelo pediatra que, a partir dos relatos familiares e exame físico, vai excluir outras causas de choro excessivo como: refluxo gastresofágico, infecções, traumas, alergia a lactose, etc.
A causa da cólica continua sendo um enigma para a pediatria resolver. As principais teorias consideram que os bebês menores de 3 meses apresentam motilidade intestinal alterada e pressão retal aumentada. Além disso, nas crianças com cólica, nota-se aumento de um hormônio intestinal (motilina) que exagera a peristalse intestinal.
O excesso de gases devido à aerofagia (deglutição de ar durante a mamada) e a má absorção transitória e fisiológica da lactose também são hipóteses para a gênese da cólica. A influência de alguns alimentos na dieta da mãe, para lactantes em aleitamento materno, ainda é discutida e deve ser considerada e avaliada com cautela.

Qual a melhor forma de resolver o problema das cólicas?

Você vai ouvir muitas receitas, medicações, simpatias, palpites e opiniões sobre a melhor forma de tratar a cólica. O fato é que nenhum medicamento é comprovadamente eficaz e alguns (como antiespasmódicos) são contraindicados para crianças tão pequenas. Não vale a pena, na maioria dos casos, o uso de medicações, considerando a relação eficácia e risco para o bebê.
Em alguns casos específicos os benefícios da medicação devem ser considerados e isso deve ser decidido pelo pediatra que acompanha a criança. Assim como a necessidade de modificação na dieta da mãe que amamenta ou a mudança da fórmula láctea dada ao bebê deve ser discutida com o médico. Alguns chás como camomila, erva-cidreira e funcho podem ter algum benefício, porém, nessa idade, o ideal é a criança ser alimentada exclusivamente por leite materno e não receber nenhum outro tipo de alimento ou líquido.

Truques que funcionam

Então o melhor a fazer é conhecer e usar alguns “truques” para evitar que esse incômodo apareça. Uma estratégia importante é sempre deixar o bebê se sentir seguro e acolhido. Isso significa para o bebê: embalo, acalanto, ambiente calmo, tranquilo e com temperatura adequada e alimentação farta (com certeza a melhor opção é o leite materno em livre demanda).

Aconchego e segurança

Nas culturas orientais e indígenas, em que o bebê fica o tempo todo grudado com a mãe, a incidência de choro excessivo é menor que nas culturas ocidentais. Enrolar o bebê em um charutinho (casulo ao redor do corpo feito com cueiro ou manta) para que ele fique contido também o mantém confortável e seguro.
Para o bebê que já apresenta cólica a melhor, e também a mais segura, maneira de ajudar a minimizar os incômodos das cólicas são as medidas de conforto ao invés do uso de medicações.
É aí que cada mãe vai ter a sua receitinha e cada bebê vai preferir de um jeito, portanto muitas vezes o que funciona com uma criança não funciona com outra. Vale ir tentando as diferentes possibilidades e ver o que melhor se adapta para o seu bebê e, a partir daí, criar a receita dele.

A principal medida comprovadamente eficaz para cólica é a massagem

A massagem pode ser feita durante as crises, ou antes delas, com a mão fechada pressionando o abdome em círculos cada vez maiores ao redor do umbigo. Complementar essa massagem fazendo, com o bebê ainda deitado, movimentos de vai e vem com as perninhas flexionadas ajuda a eliminação de gases.
Compressas mornas abdominais melhoram o incômodo, além de proporcionarem sensação de aconchego. Posicionar o bebê de bruços em sua barriga ou tórax também ajuda. Músicas, cantos, embalos e acalantos também são de grande auxílio e conforto nesse momento.
Um bom banho morno promove relaxamento e melhora dos sintomas. Quando a cólica acontece em horário predeterminado o ideal é iniciar as medidas de conforto antes que a irritabilidade se estabeleça.
É importante nessa hora contar com apoio familiar e revezar a pessoa que dará os cuidados ao bebê, para não sobrecarregar e estressar a mãe. Deve tentar consolar o bebê a pessoa que estiver mais calma e paciente no momento.

Resumo das melhores formas de evitar ou diminuir o incômodo da cólica:

• Aleitamento materno exclusivo
• Manter o bebê aconchegado em um charutinho
• Estimular o contato pele a pele (mãe e/ou pai)
• Massagear seu bebê
• Acalantar, embalar
• Usar sling (pode ser em passeios ou até mesmo dentro de casa)
• Dar banho morno
• Ter paciência, paciência, paciência, paciência
• E mais muitas doses de paciência
Em muitos momentos da vida de seu filho, ainda que ele sofra, a única coisa que você poderá fazer é embalá-lo, dar segurança, carinho, confiança e principalmente amor.
Encare a cólica como uma fase de seu filho, tenha certeza que vai passar. E que com toda experiência (boa ou ruim) vocês vão assimilar alguma coisa. Você vai aprender que é capaz de amparar o seu filho quando ele precisa, ainda que não possa resolver o problema. E ele vai aprender que você está sempre disponível, que pode confiar. E ainda que você não possa tirar todas as pedras do caminho que ele vai trilhar, pode segurar a mão dele e ajudá-lo a andar. É isso que as mães fazem, comece já!
Renata Carolina Garcia é médica pediatra com especialização em neonatolgia. Médica da Santa Casa de São Paulo e da Maternidade Amparo Maternal. Atendimento de puericultura em consultório . Mãe de uma menina maravilhosa (Marina) com 10 anos agora, mas que também sofreu com cólicas quando bebê.