quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Os sons na vida intra uterina

              O feto é sensível a sons agudos e vibrações intensas, mas também sofre se a mãe está doente, exausta ou intoxicada. Quando o embrião se aninha no útero, tendo seu corpo alimentado pela mãe, como se fosse um de seus órgãos, a sensação de bem-estar é produzida pelos sentimentos de prazer e alegria que a mãe possa estar vivendo. Da mesma forma, se a mãe está triste e estressada, tais sensações podem ser comunicadas para o feto.

O meio ambiente do feto é rico em estimulação acústica proveniente do interior do corpo da mãe através do seu comer, beber, respirar, dos batimentos cardíacos, de suas vocalizações e dos ruídos ambientais atenuados. Porém, o som mais frequente que o feto ouve é o da pulsação da principal artéria abdominal e o segundo mais frequente é o da voz da mãe. A relevância da experiência auditiva pré-natal tem sido demonstrada pelos estudos conhecidos de De Casper e seus colaboradores que provaram a preferência do bebê pela voz familiar de sua mãe, o efeito tranquilizador da exposição ao som dos batimentos cardíacos da mesma após o nascimento e a preferência revelada pelo bebê para ouvir o som de histórias familiares que haviam sido lidas por sua mãe antes do nascimento.

Feijo observou as consequências da associação de um trecho musical apresentado durante doze minutos com relaxamento materno profundo. Esse mesmo trecho foi tocado em intervalos diferentes durante a gravidez. Feijo constatou que o feto respondia muito mais cedo a esta estimulação familiar e interpretou essa reação como uma antecipação do estado de conforto induzido pela estimulação materna. A vibração é o estímulo mais potente e é capaz de induzir mudanças na motilidade fetal, bem como na frequência dos batimentos cardíacos do feto, além de produzir reações aversivas. Vimos que os sons podem afetar e sensibilizar a criança desde a gestação.

Estudos recentes mostram o quanto os pensamento, as palavras, as emoções positivas ou negativas, a música relaxante ou o rock pesado podem modificar os cristais de água. Pesquisadores (Masaru Emoto, pesquisador japonês – o seu trabalho está voltado à investigação das esnergias sutis da natureza e do homem em sua relação com a consciência humana – até o momento não há publicações em português, apenas publicações secundárias) envolveram as amostras de água com papéis, nos quais escreveram a palavra “obrigado” em inglês e em japonês, os cristais resultantes foram perfeitos, belos e luminosos. Já com a palavra “estúpido”, a água não conseguiu formar cristais regulares. Quando a amostra de água ficou exposta à “Sinfonia Pastoral”, de Beethoven ou a uma canção da compositora Enya, os cristais resultantes também foram belos, perfeitos e luminosos, apesar de diferentes. Mas, quando as amostras de água ficaram expostas ao rock pesado ou ao heavy metal, as mesmas apresentaram uma “desustruturação” de seus cristais, um “turbilhão confuso” – imagens de águas poluídas, como diz um pesquisador japonês. Apesar desse estudo se limitar a fotografar os efeitos das palavras, dos sons, dos pensamentos, da música nos cristais de água, se o transportarmos para o líquido amniótico, quais seriam os resultados? Fica claro, até este momento da pesquisa, que o bom e o belo centra e organiza, enquanto o contrário, desestrutura e desorganiza.
Durante a primeira metade da vida fetal, o âmnion cresce mais rápido do que o feto e a medida que este se desenvolve vai adquirindo a sensação vital do batimento cardíaco desse pulsar rítmico que faz fluir o sangue em todo o seu corpo e cuja diminuição acarreta a sensação de falta de oxigenação, de nutrição, de temperatura e de vida. Toda alteração do rítmo cardíaco e, consequentemente, do fluxo sanguíneo através do cordão umbilical provoca estados de estresse ou de alarma fetal.

Nos últimos meses de gestação, o feto cresce e entra em contato com as membranas que o envolvem. O oceano uterino, que antes era um espaço sem fronteiras, agora é um universo limitado onde as costas do feto e o útero da mãe parecem fundidos. O bebê pela primeira vez está envolvido num abraço de carne. Portanto, desde o momento em que o embrião se liga à placenta, imerso no fluído fetal, ele está em contato com as pulsações do batimento cardíaco e com inúmeras sensações vibratórias de movimento e de fenômenos acústicos: o fluxo sanguíneo, sons da respiração, sons das ondas aquosas do líquido amniótico, sons de músicas, sons de vozes, sons que vem do atrito com as paredes uterinas, envolvendo cada vez mais o feto.

Os sons são importantes na vida intra-uterina, assim como a comunicação das vibrações emocionais e os pensamentos da mãe para o bebê. No feto, o coração começa a pulsar antes de o cérebro se formar. Os cientistas ainda não sabem o que exatamente o faz começar a pulsar. Portanto, há no feto um cérebro emocional bem antes de haver um cérebro racional. Assim, comunicar carinho, cuidado e amor faz com que o pequeno ser se sinta mais sereno e equilibrado. Segundo Verney: “ É importante mostrar que os acontecimentos têm sobre nós uma repercussão diferente nos primeiros estágios de vida. Um adulto, e num grau menor uma criança, tem sempre tempo de elaborar defesas e reações. Ele pode amenizar os efeitos do que ele experimenta, coisa de que o feto é incapaz. Nada vem atenuar ou desviar o impacto da experiência. Essa é a razão pela qual as emoções da mãe gravam-se tão profundamente na sua mente e seus efeitos continuam a se fazer sentir com tamta força ao longo da vida.”

Vimos, então, a riqueza e a importância dos sons na vida intra-uterina. A gravidez se transforma em um canal, através do qual as mães começam a se comunicar com a nova vida. É necessário trabalhar a criança desde a gestação com a boa palavra, com a bela música, com cantos que possam harmonizá-la durante o processo gestacional e conscientizar a mãe das mudanças que ocorrem em seu corpo para que ela possa escutá-lo, escutar a respiração, que é um som musical dotado de beleza, pois fala da vida. Por isso, não podemos bloqueá-la, pois deixamos de levar vida ao pequeno ser. Vida é rítmo, portanto, é importante que cuidemos da respiração, das palavras ditas, da nossa voz, das músicas que escutamos, para que o feto possa recebê-las de uma forma harmoniosa. É como se esses sons abraçassem amorosamente o bebê. O trabalho com as mulheres grávidas é algo novo. Algumas pesquisas foram realizadas, principalmente no que diz respeito a ação dos sons nos fetos, mas gostaríamos de ampliá-las. O acompanhamento das mães e dos bebês desde o início da gestação possibilita a verificação da influência dos sons – harmonia, ritmo, melodia - e da importância da voz, do canto e da fala até as crianças completarem dois anos, mesmo se tratando de crianças que nasçam surdas. Os sons sensibilizam todo o nosso corpo e nosso meio, não só os nossso ouvidos. Como afetamos o pequeno ser com a boa palavra, com a nossa verdadeira voz, com a bela música, com os sons harmoniosos? Ouvir boa música, contar histórias, falar a boa palavra são maneiras de interagirmos com o novo ser de uma forma muito mais harmoniosa e completa. As batidas do coração são como mantras para a criança, portanto trabalhar a partir da respiração o maior equilíbrio da mãe, estaremos a trabalhar o maior equlíbrio da criança no útero. Tornar a voz do pai também importante, ou seja, não só a mãe passará a energia da sua voz, mas o novo pai – que estará interagindo desde o início da gestação. Qua as palavras sejam amorosas – é a linguagem do coração!!

* Maria Lúcia P.W. Bicudo, sócia fundadora da ONG Amigas do Parto, é enfermeira, fonoaudióloga e sociológa. O presente artigo faz parte de sua dissertação de Mestrado defendida em Maio de 2005, com o título: “A importância do som, da palavra e da voz na harmonização do ser e sua religação com o sagrado. Por uma nova releitura da Fonoaudiologia”, publicada em Setembro de 2005: “A importância do som, da palavra e da voz na harmonização do ser”. São Paulo, Ed. Altana.
E-mail: mluciabicudo@uol.com.br

BIBLIOGRAFIA

1. A.J.Decasper; W.P. Fifer. Of human bonding. Pp1174-1176.
2. J. Feijo. Le fetus, pp.192-209.
3. Thomas Verny. A vida secreta da criança antes de nascer, p.13� 



www.amigasdopartogestantes.com/2011/01/os-sons-na-vida-intra-uterina.html?spref=bl

domingo, 7 de agosto de 2011

O primeiro contato com o bebê e o estímulo da amamentação

Ainda na sala de parto, o ato de tocar o seu filho e amamentá-lo, quando possível, vai fortalecer ainda mais o vínculo entre vocês e estimular o seu corpo a favor da amamentação. Confira também dicas para esse momento ser prazeroso para mãe e filho. (Por Angelica Oliveira)


  Thinkstock
Depois de meses sonhando com o rostinho do seu filho, finalmente ele é apresentado a você na sala de parto. Mas, além de toda emoção que envolve esse momento, o primeiro contato contribui para o estabelecimento do vínculo afetivo entre vocês dois, principalmente quando existe a possibilidade de amamentar o bebê nessa hora (ainda que ele nem sugue seu peito, mas possa ter um contato pele a pele). Se você e seu filho estiverem bem, peça à equipe médica para ter essa oportunidade.
Mas, e depois, o que fazer para que tudo dê certo no aleitamento? Para ajudar você, conversamos com a pediatra Lélia Cardamone Gouvêa, professora da Universidade Federal de São Paulo. Aproveite as dicas!
Crescer - Qual a importância da primeira mamada para mãe e filho?
Lélia Cardamone Gouvêa
 – Esse momento é importante para todos os mamíferos e com o ser humano não é diferente. Quando a mãe toca e sente o filho pela primeira vez, seu corpo libera um importante hormônio, a ocitocina, que cria a sensação do vínculo. Esse hormônio é o responsável pela saída do leite na mama, além de ajudar nas contrações do útero, necessárias para a eliminação da placenta após o parto. Nos primeiros dias de amamentação, é comum a mãe sentir leves contrações, por conta da ocitocina que é liberada cada vez que o bebê mama. Esse processo contribui também para que o útero volte mais rapidamente ao seu tamanho normal, além de evitar sangramentos.
Crescer - E o bebê que, por algum motivo, não pode ter esse primeiro contato com a mãe logo ao nascer?
L.C.G.
 - Assim que a mãe e o bebê tiverem condições, essa aproximação vai acontecer. Eu mesma passei por isso no nascimento do meu primeiro filho. Ele nasceu prematuro e saiu direto da sala de parto para a unidade neonatal. Mas assim que a anestesia passou e eu consegui andar, fui até o berçário. As mães podem e devem fazer isso. Eu tirei ele do berço, peguei no colo, fiz o contato pele a pele, incentivei-o à sucção. Você tem como estabelecer esse vínculo, principalmente quando é bem orientada no pré-natal. A equipe médica deve auxiliar sobre a importância desse contato com o bebê.
Crescer – Por que é tão importante que a mãe tenha, ainda no hospital, privacidade para amamentar o bebê?
L.C.G. - Imagine você pegar o seu filho, que vem para a primeira mamada no quarto, e tem lá o chefe do seu marido ou aquela prima distante, pessoas que às vezes vão visitar só pelo compromisso social. Claro que isso causa constrangimento para a mãe. Nessas situações as pessoas se sentem obrigadas a falar alguma coisa, o que pode deixar a mãe insegura. Nós, médicos, orientamos aos técnicos e enfermeiros, que, ao levarem a criança para o quarto, peçam para as pessoas presentes saírem para que mãe e filho tenham esse primeiro contato íntimo só deles. Isso pode ser orientado durante o pré-natal e combinado entre o casal também.
Crescer – Qual a sensação que o aleitamento produz na criança?
L.C.G.
 - O leite causa muito prazer e relaxamento no bebê, porque, por meio dele, o recém-nascido ingere outras substâncias como, por exemplo, as endorfinas. Essas substâncias dão a sensação de prazer, a criança fica mais relaxada, satisfeita e muitas vezes expressa isso com um sorriso, um olhar. As endorfinas aliviam também as sensações de dor, como as cólicas.
Crescer - Qual o melhor ambiente para se amamentar?
L.C.G.
 - Não existe regra, o que prevalece é o conforto. Quando a mãe chega em casa, ela precisa ter um lugar confortável, escolhido por ela mesma, para amamentar o filho. Pode ser uma cadeira, banco ou poltrona, o que importa é que ela se sinta bem. Como nos primeiros dias, a mãe normalmente recebe muitas visitas em casa, é bom ela ter um cantinho para ficar com o filho, onde possa dedicar toda a sua atenção a ele. Durante a mamada, a mãe deve se focar no filho, e não fazer sala para as pessoas. Ela deve aproveitar esse momento, que é quando o laço afetivo vai se consolidando. Desde a gravidez, a mulher começa a estabelecer o vínculo com o filho, mas é a cada dia que a mãe forma uma relação mais intensa, conhecendo a personalidade e a individualidade dele.
Crescer - Qual a melhor posição para o bebê na hora da mamada?
L.C.G.
 - Como a gente toma líquido? Deitado? Vamos usar o bom senso. Se nós comemos e bebemos sentados, por que para o bebê, que é mais novinho, tem mais facilidade em engasgar, tem que mamar deitado? O mais confortável para ele, e que vai fazer com que mame melhor, é sentado – o que facilita na hora de arrotar. Se a mãe está dando de mamar com o peito direito, o bebê deve ficar apoiado na sua perna direita também – a mesma coisa com o lado esquerdo.
Crescer - Roupa demais atrapalha o bebê na hora da amamentação?
L.C.G.
 - Não deixe o bebê tão agasalhado durante a mamada, assim ele fica mais ativo. O bebê faz um grande esforço na hora de mamar. Ele precisa respirar, sugar e deglutir de forma coordenada.
Crescer - Como saber se a pega do bebê está correta?
L.C.G.
 - O bebê não deve abocanhar o bico do seio da mãe, porque isso machuca, além de entrar ar pelas laterais. Para comprimir o reservatório de leite, ele deve abocanhar toda ou a maior parte posterior da aréola. Se ele pegar só o mamilo, vai ferir, e o leite não vai sair. Se o bebê faz barulho ao mamar, isso indica que ele está engolindo ar, que pode fazer com que ele regurgite e tenha cólicas. O barulho pode indicar também que o bebê está sugando a própria língua, outras vezes indica que o lábio inferior está atrapalhando. Vale lembrar que é fundamental a aréola estar sempre macia para o bebê mamar. Para isso, basta tirar um pouco de leite antes da mamada. Isso facilita a sucção.
Crescer - É normal o bebê dar pausas durante a amamentação?
L.C.G
. – Sim. O bebê faz pausas para formar o volume suficiente de leite na boca para deglutir de forma coordenada com a respiração. Ele suga, acumula um volume maior de leite na boca e deglute.
Crescer – É normal o bebê perder peso mesmo sendo amamentado?
L.C.G
. – Nos primeiros dez dias de vida é normal que a criança perca peso. Mas, para evitar preocupações, a mãe deve procurar um pediatra dentro da primeira semana de vida do bebê para avaliar a criança, a pega e outros fatores.
Crescer - Qual a frequência correta das mamadas?
L.C.G.
 - No período inicial, o bebê deve mamar a cada duas horas. Como o leite materno é facilmente digerido, em uma hora e meia o estômago do bebê já está vazio. Por isso, é normal ele pedir para mamar a cada uma hora e meia. Diferente de quando a criança toma mamadeira, o que pode levar até três horas sem necessidade de mamar. Isso acontece porque o leite artificial é mais pesado e não possui enzimas pré-digeridas como o leite materno.
Fonte: Revista Crescer