domingo, 30 de outubro de 2011

Primeira infância - Instituto Fazendo História




http://www.fazendohistoria.org.br/programas/palavra_de_bebe_texto_adendo.php

A primeira infância é o momento por excelência da constituição do ser humano. As primeiras relações estabelecidas na vida de um bebê são determinantes para o seu desenvolvimento.


A primeira infância

As brincadeiras são fundamentais para o processo do desenvolvimento infantil pois o brincar não é simplesmente um passatempo, mas a forma da criança descobrir a si mesmo e conquistar o mundo à sua volta. A infância não é um momento “fácil”, muito pelo contrário! Este momento crucial na vida de todos é marcado por grandes sofrimentos. O aprendizado, a incorporação de regras, a descoberta de que o mundo não gira ao seu redor e a necessidade de adaptação ao mundo gera muita angústia. O brincar é o meio que a criança encontra para lidar com todas estas questões.

O brincar está presente desde quando o bebê ainda está dentro do útero materno, quando explora sensações de movimento e sons que é capaz de ouvir. Logo após o nascimento o bebê passa por uma fase em que não se distingue de sua mãe. Seu corpo unitário ainda não está formado mentalmente e portanto não existe para o bebê a distinção entre eu\outro. Nesta fase a mãe também precisa estar se sentindo “fundida” ao seu bebê para conseguir prover de maneira satisfatória o que ele necessita. Aos poucos o bebê percebe que não é onipotente e vai desenvolvendo a capacidade de sobreviver às mais variadas falhas do mundo externo (não ter o seio quando está com fome, não ter a coberta quando sente frio, acordar com ruídos, etc). Estas “falhas” são consideradas fundamentais para o desenvolvimento, pois a desilusão e a “falta” levam ao processo de humanização. A “falta” impulsiona o bebê a lidar de um modo diferente com o mundo, e é a base para a formação da comunicação e da expansão cultural na vida adulta.

O bebê começa aos poucos a interagir com o mundo à sua volta e a se comunicar com as pessoas. Primeiramente isto se dá através das expressões faciais, da brincadeira de atirar repetidamente objetos para fora do berço para depois serem devolvidos, da brincadeira de esconder o rosto, do brincar com os sons que são capazes de fazer com a boca, até chegar ao uso da linguagem oral.
No primeiro semestre de vida, o desenvolvimento do bebê tem como condição fundamental a presença constante de um adulto que sustente sua sobrevivência física, através da alimentação e cuidados, e também sua sobrevivência psíquica, através do afeto. Esse adulto deve atender às necessidades básicas do bebê e também oferecer seu rosto, seu colo e seu tom de voz a ele, de modo que ele possa vivenciar experiências de satisfação física e psíquica.

Nessa fase, o bebê ainda não desenvolveu a fala e mostra de diferentes formas que precisa de uma troca de fraldas, que está com cólicas, indisposto, com fome ou sono. O bebê, mais do que tudo, precisa de um adulto que reconheça, entenda e resolva suas necessidades. Nesse processo, o adulto vai aprendendo a decifrar os pedidos do bebê e dizendo para ele o que ele está sentindo e querendo. Esse ato de nomear para o bebê o que se passa com ele, vai constituindo um saber sobre o que achamos ser suas necessidades, levando-o a estabelecer uma demanda dirigida ao outro, o que é importante no desenvolvimento de todo ser humano.

Ao longo do segundo semestre de vida intensifica-se a busca do bebê por objetos do mundo que lhe despertam a curiosidade. Isso acontece principalmente através da estimulação externa, que vem dos adultos com os quais convive. Nesse momento, o bebê conquista as importantes habilidades de sentar, engatinhar e, posteriormente, andar. Cada uma destas aquisições possibilita que amplie sua percepção sensorial do mundo.

Nesse processo, novamente o adulto ajudará o bebê a entender as sensações que está experimentando. Essa ação do adulto de nomear para o bebê o que está acontecendo com ele e com o mundo a sua volta, acontece antes mesmo dele adquirir a habilidade de falar, inserindo-o aos poucos no mundo existente a sua volta.

Aos 2 anos, o bebê tem grande parte das habilidades motoras desenvolvidas. O mundo se torna diferente para alguém que pode se movimentar sozinho. Uma vez de pé o plano de visão muda e suas mãos se tornam livres para explorar objetos. É uma fase em que o bebê está sempre em movimento, pela necessidade de praticar e aperfeiçoar sua mais nova conquista. É também uma fase de experimentação e de grande curiosidade e é a partir da exploração dos objetos ao seu redor que ele apreende o significado das coisas. Está aprendendo a diferença dos objetos e suas combinações. Demonstra sinais de crescente independência, acompanhado por sentimento de maior segurança. Nesta fase, o desenvolvimento da força, do equilíbrio, da coordenação motora e da linguagem são aprimorados . O bebê apreendeu o significado da palavra “não” e começa a se opor às regras e aos limites.

A forma como o bebê irá se desenvolver está ligada não só as formas como os adultos se relacionam com ele, mas também à sua história familiar; quem são seus avós, seus pais, como ele foi concebido, se foi desejado ou não, como foi sua gestação, como foi seu parto, como foi recebido por sua família. Tudo isso faz parte da história desse bebê e não pode ser esquecido ou posto de lado.
Nos abrigos
Dentro dos abrigos, não há apenas um adulto cuidando de um bebê, mas sim muitos adultos cuidando de muitos bebês. O bebê que mora em um abrigo deve se adaptar rapidamente a esses muitos adultos e aos estímulos diferentes. Ele terá que se fazer entender por muitas pessoas em suas necessidades fisiológicas e afetivas.

Por esta razão, é importante que a equipe do abrigo possa oferecer um cuidado individualizado e organizar um plano de atndimento para cada criança atendida, criando um discurso único sobre cada bebê. A presença constante do adulto e uma rotina bem estabelecida são essenciais nesta fase.
No caso dos bebês com direitos violados, o cuidado com os laços afetivos que eles formam com os adultos por eles responsáveis torna-se ainda mais necessário, uma vez que eles sofreram, muito precocemente, situações de ruptura no convívio com seus familiares. É importante que a equipe do abrigo possa pensar este momento como uma forma de proteção essencial para o bebê ao invés de vitimizá-lo.

O trabalho com as histórias de vida dentro do abrigo é uma ferramenta que possibilita a criação de um espaço individual para cada criança dentro do coletivo que configura a situação de acolhimento. Neste sentido, é importante poder projetar o bebê como um adulto que um dia se pergunta de onde vem e para onde vai. Construir um álbum para ele com sua história de vida é uma forma de registrar sua história anterior à aquisição da linguagem, aquela que ele não lembrará se não houver pessoas ou registros que a contem.

Tudo aquilo que a equipe técnica sabe sobre sua história anterior ao abrigamento e tudo o que os educadores observam durante a passagem do bebê pelo abrigo se constitui como material precioso no fortalecimento dos vínculos que ele estabelecerá com seus novos adultos de referência ao deixar o abrigo. No caso de famílias adotantes ou substitutas, o álbum torna-se uma referência nos cuidados com o bebê e permite o conhecimento dessas etapas de sua vida! 

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Children see. Children Do.

Este vídeo é muito mobilizador, pois nos coloca diante da força do modelo na vida da criança.
Foi compartilhado ontem na FEAC em dos módulos de formação com a Maria Lúcia Gulassa e sua equipe, para os profissionais que trabalham no acolhimento institucional de crianças e adolescentes de Campinas.
Ouvimos uma frase, logo após a apresentação do vídeo, que veio complementar o silêncio ensurdecedor que já podíamos experimentar naquele momento...

"Aquilo que você faz grita tão alto que eu não consigo ouvir o que você diz..."










sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Sono e Choro - Cama compartilhada






Artigo na íntegra de Elena de Regoyos e extraído do blog MamaÉ Doula 








O sono dos nossos filhos é sempre um assunto interessante. As mães vivemos cansadas, dormimos mal e queremos soluções. "Não tem corpo que agüente", falamos, com razão... Mas pensemos em por que eles dormem como dormem, e o que podemos fazer para mudar isso.

Eu trouxe aqui um resumo-tradução próprios do exposto pela psicóloga espanholaRosa Jové, especializada em sono infantil e autora de muitos livros, entre eles“Dormir sin lágrimas”, que surgiu como resposta ao supervendas “Duérmete niño”; de Eduard Estivill, equivalente à versão brasileira “Nana neném”. Ambos dois (“Duérmete niño” e “Nana neném”) explicam como podemos “ensinar” a dormir os nossos filhos, deixando-os chorar e pautando horários.

Dormir é tão importante quando comer ou respirar, por isso nascemos sabendo fazê-lo. O detalhe é que as fases de sono de um recém nascido são bem diferentes dos de um adulto. Isso é um problema? Objetivamente não, é natural. Mas para os adultos, claro, esse desfase vira um problema.

Vamos conhecer, entao, as fases de sono dos bebês, e a sua evolução segundo sua idade:

O sono do bebê dos 0 aos 3 meses



Um recém nascido precisa comer freqüentemente para evitar hipoglicemias (descensos no seu nível de açúcar em sangue). Por esse motivo, eles não podem ter um sono muito continuo, pois assim eles garantem uma ingestão de alimento freqüente, além de manter a produção do leite necessário no seio da sua mãe. Isso inclui a noite.

O sono nestes primeiros meses é bifásico: tem só duas fases (sono ativo ou REM e sono lento), de uma duração aproximada de 50-60 minutos, tempo que demora em acordar de novo. Aos poucos, ele vai emendando uma fase com a outra, dormindo mais de forma seguida, mas no começo não é assim. Ele acorda também para estimular sua mente e conhecer o entorno (esta em pleno processo de desenvolvimento), mas também se cansa rápido, então dorme de novo.

É um sono, também, ultradiano: não diferença dia e noite (assim assegura o alimento noturno também). É poliseqüêncial, o que quer dizer que se reparte em várias seqüências ao longo do dia, ao contrário dos adultos, que tem um sono uniseqüêncial (só dorme de noite) ou até biseqüêncial (de noite e alguma siesta).

Os bebês têm uma maior porcentagem de sono REM que um adulto. Isso garante que ele integre os aprendizados do dia, ajudando a desenvolver sua mente enquanto dorme. Além disso, eles iniciam o sono diretamente em fase REM, sem passar por outras fases de sono lento. O sono profundo ou lento ajuda à recuperação física da pessoa, enquanto que o sono REM ajuda à recuperação mental. Os bebês não têm desgaste físico, mas sim tem muito desgaste mental, porque estão permanentemente recebendo estímulos novos, que precisam assimilar.

Então, o sono de um recém nascido está perfeitamente adequado as suas necessidades. É cansado atender um bebê durante a noite, mas uma vez sabemos o importante que é para ele dormir (e acordar) desse jeito, talvez seja mais fácil para nós aceitá-lo e compreendê-lo.

Durante a noite, o leite materno segrega um hormônio chamado L-Triptófano, que ajuda a ela e ao bebê a pegar no sono de novo. Só permanece no corpo de ambos uns minutos após a mamada. Nenhum leite artificial contém este hormônio.



O sono do bebê de 4 a 7 meses

A criança muda mais em estes primeiros 6 meses de vida do que mudara na vida inteira. E o sono dele também. Agora o sono dele será mais predecível, e começara dormir mais durante a noite que durante o dia. Se o bebê estava dormindo melhor, talvez agora comece acordar mais durante as noites. Isto, pese a poder parecer um retrocesso, é um avanço. Ao redor dos dois meses de idade, começam surgir no bebê nas fases III e IV de sono, nas quais é mais difícil acordar ele. Mas com 3 meses, surgem as fases I e II, de sono mais ligeiro. Portanto, agora o seu sono é:

-Circadiano: diferencia o dia da noite. No final desta etapa ele dorme geralmente a noite (acordando varias vezes) e duas vezes durante o dia. Também reduz suas horas de sono.

-Polifásico: Agora não só já adquiriu todas as fases de um sono adulto (com as suas 5 fases), senão que às vezes é capaz de ementar um ciclo com outro, dormindo mais horas seguidas, só que com mais micro despertares entre um ciclo e o outro. Os adultos também têm micro despertares entre um ciclo e outro, só que já estamos acostumados, então é esse momento no qual damos uma viradinha na cama, nos cobrimos... E continuamos dormindo. Os bebês ainda têm que se acostumar com isso, e geralmente precisam de ajuda para voltar ao sono, seja mamando, sentindo a sua mãe ou pai perto, o com alguém acariciando suas costas.


Em apenas três meses eles integram muitas fases novas de sono (duas delas de sono ligeiro), e tem que ir se acostumando a elas. É um período de freqüentes despertares. O fato de que os pais não consigam dormir bem, não significa um problema da criança, não acontece nada errado com ela. Tudo esta indo segundo o esperado, se respeitamos suas fases de desenvolvimento.

O sono da criança dos 8 meses aos 2 anos


O sono de uma criança não é igual ao de um adulto até quase os 6 anos. Mas a partir dos 8 meses o bebê paro de “construir”, e agora só vai “madurecer”. O sono, então, a partir dos 8 meses, e até os 2 anos será:

-Temido: a angustia da separação se manifesta também durante a noite. Ele começa perceber que tem um período do dia, quando ele vai dormir, em que se separa dos seus pais. Pelo tanto, é um grande alivio para eles dormirem a noite toda acompanhados, ou pelo menos acompanhar eles até eles ficarem dormidos.

A maioria dos “especialistas” que aconselham não acompanhar a criança para dormir, porque senão “eles podem se acostumar para sempre”, aconselham também colocar um bonequinho de pelúcia na cama... E se eles se acostumam para toda a vida? Não costuma acontecer, Né? Eu acredito que, do mesmo jeito, nenhum adolescente em circunstâncias normais vai pedir para seus pais dormirem com ele, nem gostaria da idéia se eles insistissem em fazê-lo. Já pensaram? Em qualquer caso, não conheço nenhum adulto que precise da companhia dos seus pais para dormir, e alguns deles sim precisam do seu bonequinho “de estimação”. Curioso.

-Curioso: O fato de começar engatinhar e/ou caminhar também gera ansiedade em ele, que vê que pode se afastar da sua mãe por conta própria. Durante a fase REM, as coisas que nos preocupam se assimilam, mas as vezes provocando pesadelos. Então o fato deles acordarem à noite é ainda habitual, por muito que tantos e tantos pais presumam do fato do filho dele “dormir a noite toda desde os “x” meses”.

O sono da criança dos 3 aos 6 anos


Muitas das crianças de esta idade já dormem a noite toda, mas não quer dizer que não seja normal que elas ainda acordem habitualmente, já que até os 5 anos é perfeitamente normal que isso possa acontecer.

“Queremos que as crianças durmam como os adultos... mas para poder dormir como um adulto, é preciso ser um adulto!!” (Explica Rosa Jové. E, como com isso, com tudo).

E é importante lembrar que adultos também gostamos de dormir acompanhados...

O que não se deve fazer

Para começar, não se deve fazer do normal, um problema. Que o sono de um bebê incomode aos adultos não quer dizer que há um problema, nem, por tanto, nada que deva ser corrigido. Os bebês dormem como dormem porque é o adequado para seu desenvolvimento. O problema está no adulto, coitado, que não rende no dia seguinte, que vive cansado. Mas o seu filho não tem problema nenhum.

Estatísticas

Sabem quantas crianças de 7 meses dormem 10 horas seguidas, sem interrupções? Apenas um 10 ou 15%. Tem alguns que o fazem, mas isso não quer dizer que seja o normal. Aos 14 meses, o maior problema de consulta pediátrica é que as crianças acordam à noite. Em um estúdio de Anders (1979), somente o 33% das crianças de 9 meses dormiam 5 horas seguidas durante a noite. E só o 18,7% das crianças de um ano dorme a noite toda.

Nas sociedades e culturas onde as necessidades das crianças são mais respeitadas, não se registram problemas de sono infantil. Isto não é porque essas crianças não acordem de noite, senão porque para essas sociedades isso não representa um problema, pelo tanto não pó reportam como tal, já que podem dormir durante o dia. No ritmo da nossa sociedade ocidental, surge o problema, porque não podemos recuperar sono durante o dia.

Agora pensemos nos métodos de adestramento infantil, para “ensinar as crianças a dormir a noite toda”. Olhemos essas dicas como se, em lugar de estar falando de um bebê, falassem de um adulto. Permitiríamos um trato assim? Todos somos pessoas, desde o momento em que nascemos (ou até antes), pelo tanto devemos ter os mesmos direitos. Antes de aplicar qualquer “método” no seu filho, pense se você aplicaria esse mesmo método, essas mesmas negativas ao reclamo de atenção e necessidade de companhia e carinho, no seu marido, mulher ou avô.

Os adultos caem em “erros” tais como o bloqueio da sua memória infantil, o “adultismo” ou até o narcisismo. Desse jeito, para evitar sofrer com dores do passado, viram insensíveis as necessidades infantis. Ou pensa que as suas necessidades são mais importantes que as da criança falando coisas como “que agüente um pouco, eu também tenho direito a descansar!”. E, no ultimo caso citado, com pais muito perfeccionistas que consideram que um filho que não dorme a noite toda ou “se comporta mal” (segundo seus cânones) são vividos como erros próprios, inadmissíveis, pelo que tentarão passar a culpa à criança.

São erros, também, pensar que a necessidade de afeto e contato das crianças existem só de dia, e de noite é capricho só. O decidir que é o adulto quem estabelece como seu filho tem que dormir e, muito habitual pensar que todo o que a criança faz “é para manipular” aos pais. As crianças pedem o que necessitam, e utilizam o que tem ao seu alcance para nos fazer chegar a mensagem.

A saúde dos nossos filhos, em risco




Pois bem, quando deixamos chorar a uma pessoa, mais ainda um bebê ou criança (com toda nossa “boa intenção”; para “ajudá-la e ensiná-la a dormir”), entra em funcionamento na sua cabeça um dos sistemas mais antigos de alarme cerebral: o sistema HHA (hipotálamo-hipofisio-adrenal). Uma criança sozinha em um quarto escuro se sente ameaçada, desprotegida, pelo tanto, instintivamente em risco.

Quando nosso corpo se sente ameaçado e prepara para o pior, ou seja, fugir ou brigar. Com esse fim, nossa amígdala (parte do cérebro emocional) ativa a descarga de adrenalina e outros hormônios para provocar uma ativação geral do organismo (ótimo para antecipar a hora de dormir... –comentário irônico-). É como se você estivesse no quarto, para dormir, no escuro, tranqüilo... e de pronto escuta um barulho no corredor da sua casa, inesperado. Não ficara desvelado com os olhos abertos em alerta? Essa é a ativação do sistema HHA.

Esse fluxo hormonal invade o cérebro da criança, colapsando a amígdala. As crianças choram sem descanso até colapsar a amígdala. Como a natureza é sabia e o corpo não resistiria muito tempo em estado de shock assim, libera sustâncias de caráter opiáceo, como endorfinas e serotonina, que provocam uma decida no sistema de alarme do indivíduo. Daí que o normal é que, trás um tempo chorando (as vezes minutos, outras horas), o menino cai rendido, e dorme. Não se engane. Não é que o método para ele dormir seja eficiente, é que ele se autodrogou para não colapsar seu cérebro.

Por isso funciona melhor com crianças mais novas, porque quanto mais pequeno ele é, ele mais fácil se assusta.

Após sucessivas experiências assim, a criança aprende que ninguém vai atendê-la, que as suas necessidades não merecem atenção (baixa autoestima), e por isso muitos deles deixam de reclamar.

Aumenta o nível de cortisol, o hormônio do stress. Com a ativação excessiva e continuada se mantém altos níveis de cortisol, que podem ter um efeito tóxico cerebral, provocando perda neuronal e vômitos involuntários. Bom, é bom falar dos vômitos, pois alguns “expertos treinadores de crianças” dizem (de novo enfoque manipulador das crianças) que elas“podem até provocar seu vômito para chamar nossa atenção e fazer com que vamos atendê-las”.

Em segundo lugar, o fato de repetir esta liberação de hormônios excitantes em situações de estréss para a criança, produz uma redução na produçao normal de serotonina, e a sua amígdala fica dessensibilizada para sempre, ficando alterada e fazendo a criança perder oportunidades de desenvolver a confiança, a autoestima e a empatia. Os baixos níveis de serotonina são indicadores de maiores níveis de violência em humanos, e esta relacionada com maiores tasas de suicídios, desordens anti-sociais e outras condutas agressivas.

A criança, com estes métodos, conseguirá dormir sozinha e sem reclamar, mas não pense que ele aprendeu a dormir, senão a se submeter.


Seqüelas e efeitos negativos



O Psico historiador Lloyd de Mause explica que os traumas provocados pelo desamparo podem magoar severamente o hipocampo, matando neurônios e ativando uma desregulação duradoura da bioquímica cerebral. Entre as seqüelas mais importantes, que podem ser observadas em crianças, estão a ansiedade, depressão, indefensão apreendida, síndrome de estréss pós-traumático, transtornos do apego e alterações de comportamento tais como hiperatividade”.

A possibilidade de trauma é maior quando é outro indivíduo quem o provocou. As crianças têm um fator pior, pois são as mesmas figuras paternas que os submetem a isso, precisamente de quem elas esperam proteção e consolo. Como uma criança pode entender isso?

Como melhorar as noites?


Como recomendações para melhorar as noites, além de conhecer, compreender e acompanhar o desenvolvimento do sono nas crianças, ressaltam dois: aleitamento e “coleito” (dividir leito com bebê) ou cama compartilhada.


Do aleitamento já temos falado e falarei mais em outras ocasioes.

Enquanto à importância nas qualidades positivas do “coleito”, é importante pensar na comodidade de não ter que passar a noite toda deitando e levantando, caminhando pela casa até o quarto do bebê, amamentando ele sentada na poltrona, etc. Ele acorda, esta com você, amamenta ele, os dois dormem enquanto mama, ou depois disso. Também ajuda o bebê a sincronizar as fases de sono com as da mãe dele.



Sem falar da necessidade de contato permanente de uma cria mamífera com sua mãe. Já viu uma cadela com os seus filhotes? Uma gata? Uma coelha? Imagina as crias dormindo longe dela? Não seria um choro permanente reclamando a presença da mãe? Sem ir mais longe... Como dormia sua bisavô com seus filhos? Como dormem nas tribos? Isso de se separar das crias à hora de dormir é um invento moderno... Não é em absoluto natural, nem muito menos recomendável, pelo menos desde o ponto de vista do bebê.

Para coleitar de uma forma segura é preciso que nenhum dos pais seja obeso, nem fumante nem tenha bebido álcool. É recomendável escolher um colchão duro e dormir sem agasalhar demais o bebê, pois o calor do corpo a corpo com os pais é suficiente. E retire travesseiros, lençóis ou edredons que possam afogar o bebê durante a noite.


* o complemento é meu

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Reflexões sobre o Acolhimento de Crianças e Jovens

“Casa é o lugar onde mora o coração” 


Como nos diz Pedro Strecht, a vida nem sempre é justa. As crianças não nascem iguais em direitos. Mas não podemos desistir de contrariar uma certa ordem das coisas, bater à porta dos corações e perguntar sem medo: pode-se entrar? Indignar-nos sempre que for preciso e lutar.
É isto que todas as pessoas que trabalham na área das crianças e jovens em risco, especificamente em instituições de acolhimento, fazem: lutar!
Lutar por (re) avivar a esperança no coração de cada criança, jovem ou adulto que acompanhamos...Porque a vida nem sempre é justa, porque os pais nem sempre são progenitores, porque os caminhos nem sempre são lineares....
A instituição, ou com prefiro chamar-lhe a “Casa de Acolhimento”, deve levar a cabo um conjunto de projectos e actividades com o objectivo de dar resposta às necessidades, promover o desenvolvimento pessoal, social, educacional e afectivo das crianças e jovens, permitindo a promoção de competências, o aumento da auto-estima e a segurança de ser amado pelo que se é, visando também possibilitar-lhes experiências positivas no presente, para que possam ter uma perspectiva de futuro; acreditar em si mesmas, para poder acreditar no “amanhã”...
Sabemos que o que deve estar sempre subjacente ao acolhimento são os afectos, “ O que temos entre mãos não é um caso nem um processo, é simples mas tão complexamente a vida de uma criança.
As crianças e os jovens acolhidas chegam-nos cheias de feridas e marcas, são vítimas de vicissitudes e circunstâncias geradoras de mal-estar, de ausências de afecto, de desinvestimento, de vazios internos e externos, estando ávidos de amor, ávidos de organização, ávidos de um lar onde habitar e pousar o seu cansaço porque, como nos diz Mia Couto “A casa é o lugar onde mora o coração”.
Nogueira (2005) considera que por se tratar de uma “casa” e pelo facto de que muitas crianças e jovens trazerem na sua bagagem uma história de vida marcada por experiências traumáticas, a preocupação e a responsabilidade com a qualidade da intervenção e da qualificação do acolhimento institucional deve ganhar uma proporção ainda maior. Assim, é necessário que os cuidadores, os responsáveis pelas crianças e jovens acolhidos, voltem os seus sentidos em direcção a eles, a fim de que possam compreender os seus gostos, interesses, capacidades e dificuldades como características pessoais que estruturam a sua personalidade e orientam o seu comportamento.
A Casa de acolhimento deve sempre intervir com base no respeito e numa efectiva valorização das suas crianças e jovens, uma vez que lhes deve ser proporcionado o afecto essencial para o desenvolvimento de uma boa auto-estima e de uma vinculação segura, assente numa boa estruturação psicológica e afectiva.
O nosso trabalho deve basear-se em Afectos e as equipas (técnicas e educativas), os educadores, os modelos destas crianças e jovens, devem constituir-se como figuras securizantes, disponíveis internamente para dar, estar, comunicar e comungar...
Em definitivo, não há uma receita ou um manual rígido de como bem proceder como uma criança e/ou jovem. Cada um deles tem uma história e emoções muito próprias, uma personalidade própria, sonhos muito próprios, muito seus. Por isso não deve haver receitas mas sim flexibilidade e criatividade.
No entanto, sabemos que a personalidade se desenvolve em sintonia com figuras contentoras e permanentes, modelos de referência que os ensinem e protejam no aqui e no agora, mas também que assegurem que esta protecção e amor esteja presente nas suas vidas SEMPRE e PARA SEMPRE. E, por isso, é importante ser céleres na definição do projecto de vida e, muitas vezes, radicais nas decisões que são tomadas, pois nem todos os pais são progenitores e porque as crianças não podem nem devem esperar eternamente  por mudanças que nunca chegam. Tal como nos diz Winnicott: "Sem ter alguém dedicado especificamente às suas necessidades, a criança não consegue estabelecer uma relação eficiente com o mundo externo. Sem alguém para dar-lhe gratificações instintivas e satisfatórias, o bebé não consegue descobrir seu próprio corpo nem desenvolver uma personalidade integrada". ,
 Partimos assim do princípio que a protecção das nossas crianças e jovens terá sempre de assentar em dois vectores: tempo e afectos. Em primeiro lugar, o tempo, que para as crianças e jovens acolhidos, não é, nem pode ser uma dimensão linear nem objectiva. O tempo tem de ser visto antes como uma dimensão relacional, sendo uma condição essencial na intervenção com crianças, uma vez que dele depende também o desenvolvimento e o evitamento de feridas profundas e vazios irreparáveis. Não podemos congelar o desenvolvimento psicológico de uma criança que precisa a cada segundo de ser amada e protegida para poder percepcionar o seu valor e a sua segurança, evitando o sentimento de desamparo e de não ser querida…
Em segundo lugar, os afectos, pois é nossa convicção, ao trabalhar com crianças e jovens que “não pertencer a ninguém é correr o risco de tornar-se ninguém”, daqui que os afectos sejam factores essenciais e vitais no desenvolvimento psicológico de qualquer ser humano, precisamos de pertencer para poder Ser…
Por isso as crianças e os jovens que são acolhidas precisam urgentemente de uma definição do seu futuro, e de pais ou modelos de referência que assegurem o seu desenvolvimento, sobretudo psicológico e emocional, pois, muitos deles são aquilo a que se chama de "maravilha ferida", ou seja, crianças e jovens, que apesar de todo o sofrimento, de toda a agressividade e das marcas do abandono e desamparo a que sempre estiveram sujeitas, são muito bonitos: vivos, espontâneos, sensatos, e intuitivos, valorizando aquilo que vale a pena valorizarem na vida: as pessoas, a esperança, e o futuro.
 Pode ser lugar comum, mas parece-me que no nosso dia-a-dia com eles,  devemos ser autênticos e estar completamente conscientes das nossas responsabilidades enquanto educadores, contentores, protectores das nossas crianças e jovens. Devemos estar atentos aos seus sinais, às suas estratégias tantas vezes mais eficazes do que aquelas que pensamos ser as “certas”, devemos ser verdadeiros ouvintes para compreender verdadeiramente e ser co-construtores de histórias para que a história das suas vidas se possa transformar. Que cada momento com cada criança, jovem ou adultos em dificuldades, em perigo ou em risco, seja uma oportunidade para entender os seus SOS, que por vezes apenas querem dizer “SE ME OUVIRES SALVAS-ME”.
Estas crianças e jovens, tantas vezes magoados e defraudados por aqueles que lhes deveriam assegurar tudo, o amor, os sonhos, a certeza de ser querido exactamente como são e pelo que são, têm o direito a ser amados, a confiar que não serão jamais abandonados. Estas crianças e jovens têm direito “a ter um colo onde se possam sentar, enroscar como numa concha e receber mimos, a acreditar que um adulto olha por eles e os ama sem condição prévia, a ter alegria suficiente para imaginar coisas boas antes de dormir e depois, a sonhar com elas,  “têm o direito de não ficar sozinhos a chorar, têm direito a crescer felizes e a ter paz nos seus pensamentos e sentimentos”. Pedro Strecht; 1998 (in Crescer Vazio)
Sobretudo, temos como missão cuidar mas também dar um sopro de vida e estas crianças e jovens, fazer renascer a Esperança em si mesmo e no futuro, fazê-los acreditar nas pessoas, sem medo de ser abandonados ou desiludidos, quebrando ciclos de desânimo aprendido e dissipando o medo de perder. Em suma, através da relação, que deve ser sempre terapêutica e autentica, temos obrigação de ajudá-los e ensiná-los a estar vivos, pois Estar vivo não supõe, só, um coração que bate (…).Estar vivo, num plano psíquico, exige, também, um conjunto de relações significativas que nos dão vida, pela diversidade das solicitações, pelas contradições que aclaram em nós, e pelas formas como nos movem e nos fazem crescer”Eduardo Sá, in Adolescentes somos nós.

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Os sons na vida intra uterina

              O feto é sensível a sons agudos e vibrações intensas, mas também sofre se a mãe está doente, exausta ou intoxicada. Quando o embrião se aninha no útero, tendo seu corpo alimentado pela mãe, como se fosse um de seus órgãos, a sensação de bem-estar é produzida pelos sentimentos de prazer e alegria que a mãe possa estar vivendo. Da mesma forma, se a mãe está triste e estressada, tais sensações podem ser comunicadas para o feto.

O meio ambiente do feto é rico em estimulação acústica proveniente do interior do corpo da mãe através do seu comer, beber, respirar, dos batimentos cardíacos, de suas vocalizações e dos ruídos ambientais atenuados. Porém, o som mais frequente que o feto ouve é o da pulsação da principal artéria abdominal e o segundo mais frequente é o da voz da mãe. A relevância da experiência auditiva pré-natal tem sido demonstrada pelos estudos conhecidos de De Casper e seus colaboradores que provaram a preferência do bebê pela voz familiar de sua mãe, o efeito tranquilizador da exposição ao som dos batimentos cardíacos da mesma após o nascimento e a preferência revelada pelo bebê para ouvir o som de histórias familiares que haviam sido lidas por sua mãe antes do nascimento.

Feijo observou as consequências da associação de um trecho musical apresentado durante doze minutos com relaxamento materno profundo. Esse mesmo trecho foi tocado em intervalos diferentes durante a gravidez. Feijo constatou que o feto respondia muito mais cedo a esta estimulação familiar e interpretou essa reação como uma antecipação do estado de conforto induzido pela estimulação materna. A vibração é o estímulo mais potente e é capaz de induzir mudanças na motilidade fetal, bem como na frequência dos batimentos cardíacos do feto, além de produzir reações aversivas. Vimos que os sons podem afetar e sensibilizar a criança desde a gestação.

Estudos recentes mostram o quanto os pensamento, as palavras, as emoções positivas ou negativas, a música relaxante ou o rock pesado podem modificar os cristais de água. Pesquisadores (Masaru Emoto, pesquisador japonês – o seu trabalho está voltado à investigação das esnergias sutis da natureza e do homem em sua relação com a consciência humana – até o momento não há publicações em português, apenas publicações secundárias) envolveram as amostras de água com papéis, nos quais escreveram a palavra “obrigado” em inglês e em japonês, os cristais resultantes foram perfeitos, belos e luminosos. Já com a palavra “estúpido”, a água não conseguiu formar cristais regulares. Quando a amostra de água ficou exposta à “Sinfonia Pastoral”, de Beethoven ou a uma canção da compositora Enya, os cristais resultantes também foram belos, perfeitos e luminosos, apesar de diferentes. Mas, quando as amostras de água ficaram expostas ao rock pesado ou ao heavy metal, as mesmas apresentaram uma “desustruturação” de seus cristais, um “turbilhão confuso” – imagens de águas poluídas, como diz um pesquisador japonês. Apesar desse estudo se limitar a fotografar os efeitos das palavras, dos sons, dos pensamentos, da música nos cristais de água, se o transportarmos para o líquido amniótico, quais seriam os resultados? Fica claro, até este momento da pesquisa, que o bom e o belo centra e organiza, enquanto o contrário, desestrutura e desorganiza.
Durante a primeira metade da vida fetal, o âmnion cresce mais rápido do que o feto e a medida que este se desenvolve vai adquirindo a sensação vital do batimento cardíaco desse pulsar rítmico que faz fluir o sangue em todo o seu corpo e cuja diminuição acarreta a sensação de falta de oxigenação, de nutrição, de temperatura e de vida. Toda alteração do rítmo cardíaco e, consequentemente, do fluxo sanguíneo através do cordão umbilical provoca estados de estresse ou de alarma fetal.

Nos últimos meses de gestação, o feto cresce e entra em contato com as membranas que o envolvem. O oceano uterino, que antes era um espaço sem fronteiras, agora é um universo limitado onde as costas do feto e o útero da mãe parecem fundidos. O bebê pela primeira vez está envolvido num abraço de carne. Portanto, desde o momento em que o embrião se liga à placenta, imerso no fluído fetal, ele está em contato com as pulsações do batimento cardíaco e com inúmeras sensações vibratórias de movimento e de fenômenos acústicos: o fluxo sanguíneo, sons da respiração, sons das ondas aquosas do líquido amniótico, sons de músicas, sons de vozes, sons que vem do atrito com as paredes uterinas, envolvendo cada vez mais o feto.

Os sons são importantes na vida intra-uterina, assim como a comunicação das vibrações emocionais e os pensamentos da mãe para o bebê. No feto, o coração começa a pulsar antes de o cérebro se formar. Os cientistas ainda não sabem o que exatamente o faz começar a pulsar. Portanto, há no feto um cérebro emocional bem antes de haver um cérebro racional. Assim, comunicar carinho, cuidado e amor faz com que o pequeno ser se sinta mais sereno e equilibrado. Segundo Verney: “ É importante mostrar que os acontecimentos têm sobre nós uma repercussão diferente nos primeiros estágios de vida. Um adulto, e num grau menor uma criança, tem sempre tempo de elaborar defesas e reações. Ele pode amenizar os efeitos do que ele experimenta, coisa de que o feto é incapaz. Nada vem atenuar ou desviar o impacto da experiência. Essa é a razão pela qual as emoções da mãe gravam-se tão profundamente na sua mente e seus efeitos continuam a se fazer sentir com tamta força ao longo da vida.”

Vimos, então, a riqueza e a importância dos sons na vida intra-uterina. A gravidez se transforma em um canal, através do qual as mães começam a se comunicar com a nova vida. É necessário trabalhar a criança desde a gestação com a boa palavra, com a bela música, com cantos que possam harmonizá-la durante o processo gestacional e conscientizar a mãe das mudanças que ocorrem em seu corpo para que ela possa escutá-lo, escutar a respiração, que é um som musical dotado de beleza, pois fala da vida. Por isso, não podemos bloqueá-la, pois deixamos de levar vida ao pequeno ser. Vida é rítmo, portanto, é importante que cuidemos da respiração, das palavras ditas, da nossa voz, das músicas que escutamos, para que o feto possa recebê-las de uma forma harmoniosa. É como se esses sons abraçassem amorosamente o bebê. O trabalho com as mulheres grávidas é algo novo. Algumas pesquisas foram realizadas, principalmente no que diz respeito a ação dos sons nos fetos, mas gostaríamos de ampliá-las. O acompanhamento das mães e dos bebês desde o início da gestação possibilita a verificação da influência dos sons – harmonia, ritmo, melodia - e da importância da voz, do canto e da fala até as crianças completarem dois anos, mesmo se tratando de crianças que nasçam surdas. Os sons sensibilizam todo o nosso corpo e nosso meio, não só os nossso ouvidos. Como afetamos o pequeno ser com a boa palavra, com a nossa verdadeira voz, com a bela música, com os sons harmoniosos? Ouvir boa música, contar histórias, falar a boa palavra são maneiras de interagirmos com o novo ser de uma forma muito mais harmoniosa e completa. As batidas do coração são como mantras para a criança, portanto trabalhar a partir da respiração o maior equilíbrio da mãe, estaremos a trabalhar o maior equlíbrio da criança no útero. Tornar a voz do pai também importante, ou seja, não só a mãe passará a energia da sua voz, mas o novo pai – que estará interagindo desde o início da gestação. Qua as palavras sejam amorosas – é a linguagem do coração!!

* Maria Lúcia P.W. Bicudo, sócia fundadora da ONG Amigas do Parto, é enfermeira, fonoaudióloga e sociológa. O presente artigo faz parte de sua dissertação de Mestrado defendida em Maio de 2005, com o título: “A importância do som, da palavra e da voz na harmonização do ser e sua religação com o sagrado. Por uma nova releitura da Fonoaudiologia”, publicada em Setembro de 2005: “A importância do som, da palavra e da voz na harmonização do ser”. São Paulo, Ed. Altana.
E-mail: mluciabicudo@uol.com.br

BIBLIOGRAFIA

1. A.J.Decasper; W.P. Fifer. Of human bonding. Pp1174-1176.
2. J. Feijo. Le fetus, pp.192-209.
3. Thomas Verny. A vida secreta da criança antes de nascer, p.13� 



www.amigasdopartogestantes.com/2011/01/os-sons-na-vida-intra-uterina.html?spref=bl

domingo, 7 de agosto de 2011

O primeiro contato com o bebê e o estímulo da amamentação

Ainda na sala de parto, o ato de tocar o seu filho e amamentá-lo, quando possível, vai fortalecer ainda mais o vínculo entre vocês e estimular o seu corpo a favor da amamentação. Confira também dicas para esse momento ser prazeroso para mãe e filho. (Por Angelica Oliveira)


  Thinkstock
Depois de meses sonhando com o rostinho do seu filho, finalmente ele é apresentado a você na sala de parto. Mas, além de toda emoção que envolve esse momento, o primeiro contato contribui para o estabelecimento do vínculo afetivo entre vocês dois, principalmente quando existe a possibilidade de amamentar o bebê nessa hora (ainda que ele nem sugue seu peito, mas possa ter um contato pele a pele). Se você e seu filho estiverem bem, peça à equipe médica para ter essa oportunidade.
Mas, e depois, o que fazer para que tudo dê certo no aleitamento? Para ajudar você, conversamos com a pediatra Lélia Cardamone Gouvêa, professora da Universidade Federal de São Paulo. Aproveite as dicas!
Crescer - Qual a importância da primeira mamada para mãe e filho?
Lélia Cardamone Gouvêa
 – Esse momento é importante para todos os mamíferos e com o ser humano não é diferente. Quando a mãe toca e sente o filho pela primeira vez, seu corpo libera um importante hormônio, a ocitocina, que cria a sensação do vínculo. Esse hormônio é o responsável pela saída do leite na mama, além de ajudar nas contrações do útero, necessárias para a eliminação da placenta após o parto. Nos primeiros dias de amamentação, é comum a mãe sentir leves contrações, por conta da ocitocina que é liberada cada vez que o bebê mama. Esse processo contribui também para que o útero volte mais rapidamente ao seu tamanho normal, além de evitar sangramentos.
Crescer - E o bebê que, por algum motivo, não pode ter esse primeiro contato com a mãe logo ao nascer?
L.C.G.
 - Assim que a mãe e o bebê tiverem condições, essa aproximação vai acontecer. Eu mesma passei por isso no nascimento do meu primeiro filho. Ele nasceu prematuro e saiu direto da sala de parto para a unidade neonatal. Mas assim que a anestesia passou e eu consegui andar, fui até o berçário. As mães podem e devem fazer isso. Eu tirei ele do berço, peguei no colo, fiz o contato pele a pele, incentivei-o à sucção. Você tem como estabelecer esse vínculo, principalmente quando é bem orientada no pré-natal. A equipe médica deve auxiliar sobre a importância desse contato com o bebê.
Crescer – Por que é tão importante que a mãe tenha, ainda no hospital, privacidade para amamentar o bebê?
L.C.G. - Imagine você pegar o seu filho, que vem para a primeira mamada no quarto, e tem lá o chefe do seu marido ou aquela prima distante, pessoas que às vezes vão visitar só pelo compromisso social. Claro que isso causa constrangimento para a mãe. Nessas situações as pessoas se sentem obrigadas a falar alguma coisa, o que pode deixar a mãe insegura. Nós, médicos, orientamos aos técnicos e enfermeiros, que, ao levarem a criança para o quarto, peçam para as pessoas presentes saírem para que mãe e filho tenham esse primeiro contato íntimo só deles. Isso pode ser orientado durante o pré-natal e combinado entre o casal também.
Crescer – Qual a sensação que o aleitamento produz na criança?
L.C.G.
 - O leite causa muito prazer e relaxamento no bebê, porque, por meio dele, o recém-nascido ingere outras substâncias como, por exemplo, as endorfinas. Essas substâncias dão a sensação de prazer, a criança fica mais relaxada, satisfeita e muitas vezes expressa isso com um sorriso, um olhar. As endorfinas aliviam também as sensações de dor, como as cólicas.
Crescer - Qual o melhor ambiente para se amamentar?
L.C.G.
 - Não existe regra, o que prevalece é o conforto. Quando a mãe chega em casa, ela precisa ter um lugar confortável, escolhido por ela mesma, para amamentar o filho. Pode ser uma cadeira, banco ou poltrona, o que importa é que ela se sinta bem. Como nos primeiros dias, a mãe normalmente recebe muitas visitas em casa, é bom ela ter um cantinho para ficar com o filho, onde possa dedicar toda a sua atenção a ele. Durante a mamada, a mãe deve se focar no filho, e não fazer sala para as pessoas. Ela deve aproveitar esse momento, que é quando o laço afetivo vai se consolidando. Desde a gravidez, a mulher começa a estabelecer o vínculo com o filho, mas é a cada dia que a mãe forma uma relação mais intensa, conhecendo a personalidade e a individualidade dele.
Crescer - Qual a melhor posição para o bebê na hora da mamada?
L.C.G.
 - Como a gente toma líquido? Deitado? Vamos usar o bom senso. Se nós comemos e bebemos sentados, por que para o bebê, que é mais novinho, tem mais facilidade em engasgar, tem que mamar deitado? O mais confortável para ele, e que vai fazer com que mame melhor, é sentado – o que facilita na hora de arrotar. Se a mãe está dando de mamar com o peito direito, o bebê deve ficar apoiado na sua perna direita também – a mesma coisa com o lado esquerdo.
Crescer - Roupa demais atrapalha o bebê na hora da amamentação?
L.C.G.
 - Não deixe o bebê tão agasalhado durante a mamada, assim ele fica mais ativo. O bebê faz um grande esforço na hora de mamar. Ele precisa respirar, sugar e deglutir de forma coordenada.
Crescer - Como saber se a pega do bebê está correta?
L.C.G.
 - O bebê não deve abocanhar o bico do seio da mãe, porque isso machuca, além de entrar ar pelas laterais. Para comprimir o reservatório de leite, ele deve abocanhar toda ou a maior parte posterior da aréola. Se ele pegar só o mamilo, vai ferir, e o leite não vai sair. Se o bebê faz barulho ao mamar, isso indica que ele está engolindo ar, que pode fazer com que ele regurgite e tenha cólicas. O barulho pode indicar também que o bebê está sugando a própria língua, outras vezes indica que o lábio inferior está atrapalhando. Vale lembrar que é fundamental a aréola estar sempre macia para o bebê mamar. Para isso, basta tirar um pouco de leite antes da mamada. Isso facilita a sucção.
Crescer - É normal o bebê dar pausas durante a amamentação?
L.C.G
. – Sim. O bebê faz pausas para formar o volume suficiente de leite na boca para deglutir de forma coordenada com a respiração. Ele suga, acumula um volume maior de leite na boca e deglute.
Crescer – É normal o bebê perder peso mesmo sendo amamentado?
L.C.G
. – Nos primeiros dez dias de vida é normal que a criança perca peso. Mas, para evitar preocupações, a mãe deve procurar um pediatra dentro da primeira semana de vida do bebê para avaliar a criança, a pega e outros fatores.
Crescer - Qual a frequência correta das mamadas?
L.C.G.
 - No período inicial, o bebê deve mamar a cada duas horas. Como o leite materno é facilmente digerido, em uma hora e meia o estômago do bebê já está vazio. Por isso, é normal ele pedir para mamar a cada uma hora e meia. Diferente de quando a criança toma mamadeira, o que pode levar até três horas sem necessidade de mamar. Isso acontece porque o leite artificial é mais pesado e não possui enzimas pré-digeridas como o leite materno.
Fonte: Revista Crescer